“Faça nascer, mesmo que seja pequeno”. Essa foi uma frase dita pela minha amiga Ana Holanda em um dos mil cursos que já fiz com ela (e continuarei, pois inscrita para o próximo já estou). Fiquei matutando sobre isso quando reli minhas anotações desta aula e decidi, consultando minha astróloga - sou dessas, parir mais uma ideia desta cabecita loca que fervilha desejos, vontades e manias, mas que também procrastina e não sai do lugar.
Por isso estamos aqui: na minha primeira newsletter! Vivaaa!
Bom, eu sei que newsletter é o nome do momento, mas assim como outras denominações em inglês me causam um certo desconforto, prefiro transformar e dizer que esse canal aqui será escrito em formato de cartas, que tal? Sempre escrevi cartas. A mão, em papéis de carta coloridos ou personalizados (tenho um rosa com meu nome gravado, em papel de seda, até hoje...). Quando pequena, ao voltar de Brasília com 10 anos, essa era a única forma de conversar com os amigos que lá ficaram. Mas sinto que com o passar do tempo e a tecnologia, as cartas viraram breves trocas de mensagens no WhatsApp onde nem perguntamos mais como a pessoa está quando iniciamos a conversa. Apenas despejamos a informação, fofoca, dúvida ou pedido.
Por tudo isso e pela minha necessidade de ter uma conversa mais próxima, mais amorosa, mais direta, Palavras Temperadas serão cartas. Dentro deste contexto, pode ser que ela seja direcionada a alguém, em algum momento ou em vários, pode ser que ela seja só um grande desabafo. Pode ser até que ela seja informativa, com dados, notícias, entrevistas. Pode ser que tenha uma receita, duas, quem sabe? Pode ser que ela não signifique nada para você. Tudo bem, o importante é que estou “fazendo nascer” algo que já vem martelando minha cabeça faz muito tempo.
Mesmo que você já me conheça, vale dizer brevemente que já fiz um tanto nesta vida. Sou jornalista de formação e trabalhei em inúmeras áreas dentro do mundo da comunicação. Acho que só não realizei um sonho na minha carreira: trabalhar em uma grande redação de jornal impresso. Algo impensável para as novas gerações, afinal, o que é mesmo um jornal impresso? No mais, passei por rádio, produtoras de TV, produtoras de cinema e propaganda, revistas, agência on-line e até pelo trade marketing eu estive. Tudo isso, num mundo bem distante, quando a gastronomia ainda não tinha vindo para fazer transbordar o caldo da minha vida profissional.
Para não me alongar muito por ora fico por aqui com a minha trajetória profissional. Ela volta, tenho algumas histórias, curiosidades ou alimentações de ego para escrever. Aliás, me manda carinhos depois de ler esta cartinha, a ansiedade está enorme e o medo de flopar gigante! (ou seja, biscoitos, por favor!)
Agora, quero contar um pouco mais sobre o que teremos neste canal.
A ideia é que as cartas sejam quinzenais, com informações sobre gastronomia de um modo geral, mas como falo mais do que a boca, ops, escrevo mais do que deveria, pode ser que traga assuntos diversos. Entenda, o foco é alimentação, gastronomia, culinária e hospitalidade, mas outros assuntos podem surgir ao longo do caminho (e tá tudo bem, né?).
Teremos algumas “seções” fixas, que podem mudar de nome e não ter a mesma periodicidade das cartas. Por enquanto, vou falar sobre uma em especial que quero muito que esteja em todas as cartinhas, e aos poucos vou revelando as outras.
· Post-it*: tenho a mania de rabiscar meus livros, mas não faço isso com os de culinária. Preciosismo ou por tratá-los como obras de arte, que são mesmo! E, embora saiba todas as receitas que já testei dos livros, nunca consigo achá-las de volta. Talvez esteja na hora de começar a marcar, pelo menos com um post-it.... Nesta sessão vou dar dica de livro ou literatura gastronômica (romances) ou receitas dos livros da minha estante – a coleção é grande.
Post-it* #1
No e-mail marketing que mandei chamando amigos e clientes para entrarem aqui, postei as fotos desta torta que eu amo fazer. Lembro direitinho que um ano ofereci no cardápio de sobremesas do Dia das Mães e não saiu nenhuma. Tempos depois, uma querida amiga me encomendou sobremesas para o aniversário de um ano da filha, onde teriam mais adultos do que crianças. Ela queria um café da tarde mais chique (ela é super chique!) e sugeri essa torta que foi puro sucesso. Recomendo fortemente que você teste e faça para a família.
A receita é do livro Culinária Francesa - Bistrô Clássico, da Laura Washburn, com fotografias de Martin Brigdale (vamos combinar, fotos de gastronomia são lindíssimas) e tradução de Soraya Imon de Oliveira, que logo de cara indica: “o ingrediente essencial é a simplicidade” e alega que a culinária francesa é uma vítima de um conceito equivocado que a descreve como complicada – aqui valem algumas cartinhas a respeito. “Faites Simple” ou mantenha a simplicidade é uma recomendação de um dos maiores chefs de todos os tempos, Auguste Escoffier. E tem coisa mais chique que ser simples?
Torta de Creme de Baunilha com Frutas Assadas
Usei ameixas, mas você pode fazer com pêssegos, damascos, nectarinas, peras e maçã. Só não use a fruta muito madura, ameixa, por exemplo aquelas molinhas talvez solte água e pode comprometer o creme de baunilha.
Massa - é uma Pâte Brisée, tradicional massa doce de tortas francesas
Ingredientes
220g de farinha de trigo
2 colheres de chá de açúcar refinado
100g de manteiga sem sal, gelada e cortada em pedaços
1 pitada de sal
Papel manteiga
A receita diz para colocar farinha, açúcar, manteiga e sal em um processador de alimentos. Na época, não tinha um tão potente, então, trabalhei a massa na mão mesmo. Adicione de 3 a 4 colheres de sopa de água gelada (sim, gelada mesmo) até ela ficar uma massa quase homogênea. Deixe descansar por uma hora na geladeira (embrulhada em plástico filme).
Modele a massa de acordo com a assadeira, cobrindo as laterais da mesma. Ideal é usar um papel manteiga no fundo para garantir que ela não grude. Não precisa ser uma forma alta, não é um recheio que cresça muito, como bolo, por exemplo. Volte para a geladeira por 10 minutos para descansar. Num forno pré-aquecido, asse a massa por uns 15 minutos. De preferência com papel alumínio e um pesinho para a massa não subir (eu uso umas bolinhas de cerâmicas super práticas). Retire do forno e deixe a massa esfriar.
Recheio da Torta
Ingredientes
7 ou 8 ameixas (700/800g) maduras, sem estarem moles demais
2 ovos grandes
6 colheres de sopa de creme de leite fresco
6 colheres de sopa de açúcar refinado
Corte as ameixas em quatro e remova os caroços.
Arrume as ameixas por cima da massa pré-assada. Se a assadeira for redonda, crie um círculo, na retangular, faça linhas.
Pré-aqueça o forno a 200ºC.
Em uma tigela, bata bem os ovos, o creme de leite e o açúcar. Aqui, licença poética, acrescento umas raspas de cumuru… mas acredito que umas raspas de laranja tragam uma acidez precisa. Despeje a mistura de ovos sobre as frutas, com cuidado para rechear a torta de maneira uniforme.
Leve a assadeira ao forno e asse por uns 35/40 minutos, até crescer, firmar e começar a dourar.
Retire do forno e salpique açúcar de confeiteiro. Sirva quente ou em temperatura ambiente.
Nasceu!
“Mas Rê, você não vai cobrar pelo conteúdo? É o seu trabalho...” – pode ser que você esteja querendo fazer essa pergunta. E não, por enquanto, não tenho essa pretensão, mas, como nem tudo vem de graça, já diz Babylon de Zeca Baleiro, “nem o pão e nem a cachaça”, se você quiser contribuir, essa plataforma oferece meios de fazer isso. Eu só preciso descobrir e entender como faz. Em breve, darei essa informação.
Qual a música, Pablo?
Pois é, parece que acabou mas não… vou deixar aqui uma música que faz parte das minhas 50 músicas preferidas, talvez para iniciar seja A minha música preferida da vida e eu não sei explicar o porquê. OBS.: estou na fase das listas de 50+, e nem estou sendo influenciada pelo personagem de Alta Fidelidade, livro que estou lendo agora. Apenas porque em breve é meu aniversário de 50 anos e falar sobre isso tem sido uma constante e/ou um desejo.
Eu disse que escrevo mais do que a boca, né?!😜
Obrigada por chegar até aqui!
Beijocas, até loguinho (sou fofa, viu Ana Tereza?!)
Rê Vidal
Newsletter de autoria de Renata Vidal e edição de Priscila Schip.
Amei! Pode misturar os assuntos! Não é assim na culinária? Misturando os ingredientes que criamos os pratos? Mal posso esperar pelos temperos das próximas palavras.
Que delícia de texto! Vou acompanhar sempre e me arriscar na receita. Quem faz o melhor queijo quente do mundo (saudades, Mandarina!) não vai indicar receita ruim, né?