Oi, tudo bem?
Como anda seu início de ano? Já não rola mais desejar “feliz ano novo”, não é mesmo? E o carnaval? Se acabou na folia, descansou ou trabalhou? Por aqui, a folia foi morna - quente de temperatura - verão curitibano bombando, mas gelada em animação. E isso talvez tenha me frustrado um pouco. Depois de uma pandemia e dois anos de carnaval com a Mandarina, acho que eu queria ter me acabado na festa mais popular do planeta.
Até deixamos a preguiça de lado e fomos para um “estudo antropológico“ e assistimos ao desfile das escolas de samba da cidade, na Avenida Marechal Deodoro. Carnaval de rua raiz, vendo a banda (escola) passar grudados ao alambrado, com diferenças gritantes entre as escolas - uma parecia ter comprado fantasias na Casa China, outra com esmero e dedicação nas coreografias de passistas e ala de patins.
Brinquei com o André: quando ele fizer 70 anos e for assistir na passarela do samba curitibana as escolas com 1000 componentes e não apenas 300 como as de agora (lembrando, a bateria da Mangueira tem cerca de 300 ritmistas desfilando), ele vai dizer “na minha época, vinha com meus pais assistir no chão, gritando pras passistas e amigos que desfilavam”. Sim, porque vimos várias pessoas conhecidas/amigas e até um dos jurados, eu reconheci!
A verdade é que nunca vi a cidade tão cheia e movimentada, com blocos saindo durante o carnaval. Normalmente, a folia acontece antes. Mas nem isso me fez sair de casa. Queria, mas não sai e acabei me frustrando. Expressar o que queremos, como queremos e quando queremos é uma necessidade para não encarar as frustrações das expectativas não correspondidas. Fica a lição…
Puro suco de BLÁBLÁBLÁ
Fui fazer uma lista (lembra que eu falei sobre listas?) de possíveis assuntos para a cartinha de hoje. Sério… ficaria até o próximo carnaval macetando (palavra da vez) na sua cabeça sobre os temas possíveis. Desde discorrer sobre uma conversa mucho loka da Baby com a Ivete, passando pela Onça Paolla Oliveira ao onipresente Humberto Carrão - me diverti demais com amigas encontrando ele em todos os lugares possíveis -, indo para o efeito arrebatador e lindo que a Portela fez, ao trazer o livro Um defeito de cor para a passarela, criar um enredo arrepiante e fazer o livro ser vendido como água no deserto. Melhor resultado do carnaval, impossível. Cultura, incentivo, coragem. Essa festa também é isso tudo. Adendo importante: ainda não li, falha minha.
Voltei ao meu posto de noveleira, tema da música do Trio de Janeiro - “Noveleira, eu te amo”, e estou grudada na TV, assistindo Renascer. Pois é, depois de crescer assistindo todas as novelas, embarcar na onda das séries, voltei às origens. Perdi o remake de Pantanal - que assisti inteirinha quando passou (eu morava em Buenos Aires e a TV Manchete era a única emissora que transmitia para lá - não sei porquê) e agora, não vejo a hora do Vladimir Brichta entrar em cena e eu amar odiá-lo. Obviamente, assisti à primeira versão, mas já estava entrando na fase “cool” de estudante de jornalismo, quando acompanhar novelas era coisa de tiazona. Ou seja, lembro um pouco da história e muito das fofocas dos atores. E nessa versão tem uma das músicas mais lindas da vida - calma que falo dela ali embaixo, na única sessão que ainda mantenho da carta.
Vem aí o Festival de Teatro de Curitiba. Quem não é daqui não consegue imaginar o quanto esse festival mexe com a cidade. São duas semanas de pura cultura e entretenimento. É lindo ver, assistir e participar. Vacilamos e já perdemos ingressos para algumas peças, mas garantimos duas, pelo menos. Corre e veja a programação.
Balenciaga (Star+) e Tapie (Netflix) foram as séries do Carnaval. Personagens reais, intensos, densos, cheios de dilemas morais e estripulias financeiras. O ator que faz o personagem de Cristóbal Balenciaga é a cara do Marlon Brando e se joga no papel de um gênio da alta-costura que deve estar se revirando no túmulo vendo os rumos que a marca que leva seu nome tomou. Tapie é sobre um empresário francês, malandro e ambicioso que chegou a ser dono de um time de futebol. É interessante ver a cobiça pelo poder e a cara de pau de quem se acha mais importante e inteligente que todos à sua volta.
Menos de cinco dias para começar a edição de janeiro do Rock Camp Curitiba, travei minhas costas. Fiquei esparramada - igual rama de batatinha - no chão aos prantos sem conseguir me mexer. Injeção e remédios me ajudaram a passar por mais um Camp, onde tive que diminuir o ritmo, delegar mais e controlar a ansiedade de não ter controle sobre tudo. Não foi fácil.
Li ou ouvi em algum lugar a frase: “sua coluna travou para o seu corpo inteiro não colapsar”. E foi essa a sensação que tive quando o Camp acabou e voltei do médico com ele dizendo que eu preciso me fortalecer - ironia da vida… Eu ainda estou colapsando. E eu ainda não sei como parar e/ou me fortalecer.
Qual é a música, Pablo?
Estava decidida a colocar uma música do Roberto Carlos, pois é, não nego que gosto e sou saudosista. Pensei nele por talvez estar sendo impactada pelas propagandas do show dele (ainda não arrumei companhia, alguém?!) ou pela música em questão que escutei outro dia. No entanto, por conta da novela Renascer, uma música voltou para a minha vida (dessa vez, na versão da cantora Maria Maud, que descobri ser filha da Cláudia Abreu!). Acho o disco inteiro uma preciosidade absurda, nas letras e melodias. E a voz? A voz que ela mesma canta na primeira faixa-poema (a letra é do Caetano): “e essa voz que Deus me deu”.
O disco Marina Lima é de 1991, quando a cantora assumiu o nome completo e assinou o disco dessa forma. Com composições suas e de vários parceiros já de longa data (esse é o 9º álbum dela), onde ela declara suas dúvidas (?) sobre a sexualidade (Será que você será); uma gravidez múltipla de várias Marinas; O meu sim parece uma declaração de independência que não é ouvida… Acontecimentos, afff... Ficaria horas aqui falando de cada uma das músicas desse LP que contém amor, dor, dúvidas, vontade de viver e de se reconhecer. Para mim, Eu Não sei dançar é a obra prima do conjunto, daquelas que eu escuto e a voz fica embargada querendo chorar. Ela é sobre não atender as expectativa do outro - seja no ritmo, seja na sincronia - e a dor que isso causa, sobre a dificuldade de se conectar com as relações (íntimas ou não), sobre enxugar as lágrimas ao amanhecer para seguir a vida, mesmo que seja na solidão.
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa pra lembrar
Às vezes eu quero demais
E eu nunca sei se eu mereço
OBS: tudo interpretação, sensações e sentimentos meus, tá? Provavelmente se você escutar, vai ter outra ideia sobre cada uma das músicas. Se puder, tire um tempo para você e escute com atenção todas as faixas. Poesia pura.
OBS2: minha irmã Patrícia tem uma história ótima com a Marina Lima que ela nem deve se lembrar, mas é o melhor exemplo de cariocas se esbarrando com artistas nas ruas do Rio. Um dia, eu conto.
É, eu sei, a cartinha ficou um tanto quanto densa. Talvez seja o medo do por vir, mas eu juro que estou animada - mesmo exausta da vida -, com o ano. Tenho a impressão que pode ser um bom período de redescobertas, especialmente de mim mesma.
Que comece o ano, então!
Obrigada por chegar até aqui.
Beijocas e até loguinho
Rê
Sinto em dizer, acho que quando André tiver 70 anos, o carnaval de Curitiba não deve ter evoluido tanto assim ahahah Mas só acho, talvez esteja errada
Então Rezinha, já te falei que eu sempre adoro quando chega o email avisando que tem Palavras Temperadas nova? Daí esse eu guardei pra ler com calma e não no corre ;-)
Cara... mas o que é incrível é que quando tu fala qual é o cantor do qual é a música, eu vou pensando na minha..... e daí vai lá e bate! Quer dizer.... bate a música escolhida, né? Porque a interpretação sobre, a tua sempre supera a minha em profundidade, ou na viagem, né amiga!?. Kkkkk! Beijos minha querida!