Oi, tudo bem?
E essa onda de calor, minha gente?!!?!? O verão está terminando - infelizmente - e eu nunca vi uma estação como esta aqui em Curitiba. A cidade está linda, embora seu povo esteja sofrendo. Nota-se no olhar.
Ao sair no último sábado e voltar para casa parecendo o papa léguas depois de atravessar o deserto, reparei na quantidade de gente na rua. Acho que ninguém quer ficar em casa sofrendo com o calor. E sair de casa, desfrutar dos parques, das áreas ao ar livre, das ruas ainda arborizadas…, pode ser uma opção mais leve e bacana. Só falta a praia, reclama a carioca que não ia à praia todos os dias!
“Ai que delícia o verão”, hitzinho da Marina Sena, nos faz lembrar que esta também é uma situação alarmante. Mas eu não vou me preocupar nem me desesperar, por enquanto, com o inverno que poderá vir nesta mesma intensidade.
Quero não, obrigada.
Crescer e envelhecer
A pauta do momento (nunca sai de moda ou de pauta, na verdade) é o envelhecimento. Especialmente, o das mulheres. No entanto, eu ando pensando no envelhecimento sob um ponto de vista bem diferente, que tem me batido ultimamente e me feito trocar ideias aqui e ali sobre o assunto.
A dor de crescer é algo que sabemos/conhecemos desde a infância. Crianças sentem dores físicas reais e até febre porque estão crescendo, é normal dentro do desenvolvimento delas. Virou uma expressão e hoje é fácil alguém comentar sobre as “dores e as delícias do crescimento” para qualquer idade.
Imagino que a expressão sirva para qualquer idade. À medida que envelhecemos, as dores não cessam. Para além das dores causadas seja por reumatismo ou por problemas musculares, ou seja, dores físicas reais mesmo - e aqui não importa se você é aquela pessoa que super se cuida, se alimenta bem, malha, etc, sinto lhe dizer, você vai ter dores -, há dores que ultrapassam o corpo físico e que, muitas vezes, não temos a menor capacidade de controlar e sentimos como um furacão derrubando tudo.
Ao longo da vida, essas dores - as não físicas - podem surgir aqui ou ali, mas ando tendo a impressão que quanto mais velhos ficamos, experimentamos cada vez mais a crueldade de uma delas: a dor da perda…. Na infância, a perda te molda para sempre. Já na adolescência pode trazer ainda mais angústia em uma das fases mais esquisitas da vida. Quando adulto, há diferentes estágios ou idades da vida adulta para lidar com a finitude. Tendo passado pela perda da minha mãe aos 30 anos, posso dizer que não foi o momento mais fácil e carrego dores até hoje - cada um vive o seu luto, isso não está em questão - mas eu entendo que ele é para sempre.
No entanto, observando e conversando com amigos muitos próximos, acompanhando a batalha de verem seus entes queridos, especialmente pais e alguns avós (que na nossa idade tê-los é uma dádiva!) lutando contra doenças, instabilidades mentais e emocionais, vejo o quanto, não importa a NOSSA idade, não estamos preparados para a dor da perda. E de fato, NUNCA estaremos.
Ao mesmo tempo em que temos que sobreviver a essa única certeza da vida e a essa dor que nos corrói, nos vemos na situação que ninguém nos ensina a lidar: o cuidado de quem nos cuidou.
De repente, você chegou a sua fase adulta mais madura, está com a vida mais ou menos estabilizada, obviamente nunca plena, mas entrou em um platô consistente, digamos assim. Talvez você queira encarar uma nova profissão, talvez você só queira paz e sossego, não importa. O que você vê é a necessidade de encaixar nessa dinâmica da vida adulta a variável do cuidado com o outro. E não estou falando apenas dos seus familiares mais velhos. Podem ser os filhos dos nossos filhos, não é mesmo? O ponto é que passamos a vida cuidando, direta ou indiretamente, e essa é uma daquelas equações da matemática da nossa existência que parece impossível de se resolver. E ainda traz uma dessas dores em que raramente refletimos como ou de onde vem. Apenas se instala.
Eu sei que envelhecer é um privilégio e devemos honrá-lo da melhor maneira possível, inclusive tratando a finitude da nossa própria vida como uma realidade, ainda assim, me pego refletindo porque nos custa tanto encarar o assunto de uma forma mais pragmática e realista dentro das nossas possibilidades emocionais. Vai doer, eu sei, talvez dê uma febrezinha. Tudo bem. Infelizmente, a solução não é como na infância, quando ministrar um paracetamol resolve, mas sem dúvida, nos fará crescer mais um pouco.
Strogonoff
Este prato é um case merecedor de pesquisas e teses de mestrado, quando, finalmente, tratarmos a comida, alimentação ou gastronomia como objeto de estudo acadêmico real. Antes de falar sobre ele, o prato, quero abrir um parênteses sobre o estudo acadêmico da gastronomia. Talvez você não saiba, mas só existe uma única universidade no Brasil habilitada, pelo MEC, para abordar a Gastronomia como objeto de estudo/matéria para mestrado. Todas as outras linhas de mestrado utilizam cadeiras diversas através das quais trata-se do assunto da alimentação, como sociologia, comunicação e filosofia. Somente a UFC (Universidade Federal do Ceará), hoje, aceita mestrado acadêmico (stricto sensu), dentro do curso de pós-graduação em Gastronomia da Universidade. Loucura, né?!
Voltando ao Strogonoff…
Quem gosta do tema já deve saber que strogonoff ou estrogonofe (e agora, stroganoff) não é coisa nossa como Pedro de Lara (pegou a referência, né!?). Já me alonguei muito e não vou entrar em detalhes sobre ele, o estrogonofe no caso. Até porque a Paola Carosella (tá sabendo que estudei com ela na adolescência? Vixe, uma hora dessas conto como descobri - que é uma história muito mais divertida!) explica direitinho aqui neste vídeo (Stroganoff, com A mesmo! - Nossa Cozinha Ep.4) e cria uma versão dela para o prato.
Para mim, estrogonofe - em bom português mesmo - é uma comida afetiva (quem aguenta mais esse termo, gente?), típica dos anos 70/80 quando era preparada em ocasiões especiais ou o prato principal dos jantares de casamento. Pelo menos, na minha casa era sinônimo de comida especial. Afinal, leva ingredientes nobres como filé mignon, champignon em conserva (sim, já foi um luxo… eca) e creme de leite - que mesmo sendo de latinha era quase um luxo (de novo, na minha casa…). E o mais engraçado é que, de tanto que faço, hoje é uma comida que traz uma lembrança carinhosa para o Deco, meu filho. Ele AMA estrogonofe.
E suas variações. Nunca vou esquecer, quando o Rogerio (el maridón) pediu para almoçar, no dia dos pais, estrogonofe de camarão. Os puristas tremem. Mas sim, dá pra você adaptar a receita para fazer de camarão, frango e as opções vegetarianas de palmito ou grão de bico. Aliás, abriu um restaurante em Curitiba que SÓ serve estrogonofe, o Strô. Nunca fui, tá?! Ele se apresenta como “especializados em strogonoff”, mas uma rápida passada pelo Instagram vi que se renderam aos pratos de massa. #risosironicos
A minha receita acho que aprendi de olho, de lembrar a minha mãe ou meu pai fazendo, devo ter feito algumas mudanças aqui e ali, voilá: tenho a minha versão. A da Paola, sem dúvida, é mais sofisticada. Pegue as dicas e faça como preferir.
Ingredientes
1kg de coxão mole - pois é, não precisa usar mignon ou miolo de alcatra, o coxão mole dá conta do recado sem ficar dura. Em Curitiba, no Frigorífico Tapajós, você já pede a carne pronta, cortadinha. Só acho que as tiras são grandes, eu ainda dou uma fatiada em casa.
1 cebola grande
2 dentes de alho
Sal, pimenta do reino moída na hora
Óleo
1 lata de tomate pelado processado
1 dose de conhaque ou whiskey
2 colheres de sopa extrato de tomate
1 colher de sopa de mostarda amarela
1 colher de sopa de molho inglês
1 colher de chá de tabasco
300g de creme de leite fresco (nunca de latinha)
1 lata de milho em conserva - trabalhamos com paladar infantil em casa e detestamos aquele cogumelo em conserva que você encontra nos estrogonofes da vida. Minha sogra usava palmito. Mas acho que palmito, só na versão vegetariana mesmo.
Preparo
Lembrando: esse é o meu modo de fazer….
Em uma frigideira funda - para caber o molho - frite, de pouco em pouco, a carne. Se você fritar tudo de uma vez, ela vai cozinhar e não fritar e tende a endurecer. A cada rodada de fritura, tempere com sal e pimenta do reino. Vai reservando até finalizar a carne toda.
Nesta mesma panela, depois que finalizar a carne, frite a cebola e o alho. Devolva a carne à panela e acrescente a dose de conhaque ou whiskey. O ideal é flambar, mas aqui em casa, eu já queimei o filtro do exaustor ... cuidado…
Reserve essa carne de novo e na mesma panela, acrescente o tomate pelado processado, o extrato de tomate e umas duas colheres de água. Tempere com a mostarda, molho inglês e tabasco, além de sal e pimenta. Deixe cozinhar um pouco para incorporar todos os sabores que ficaram da fritura da carne. Acrescente o creme de leite e o milho, cozinhe mais um pouco e por último volte com a carne. Sirva em seguida. Aqui em casa, sempre no modo tradicional: arroz e batata palha.
Pablo, qual é a música
Tive que recorrer a lista que fiz com as 50 músicas da minha vida - ainda não completei, mas funciona como um bom guia. Fiquei pensando na dificuldade de escolher uma única música do Ney, Gal, Caetano ou Bethânia, por exemplo. Ou se as outras que estão ali realmente são as minhas favoritas. Volúvel…. Estou com a dupla de irmãos baianos na cabeça por conta dessa turnê que eles vão fazer. E no medo de não conseguir ingresso para assistir a esse espetáculo. Em tempos de frenesi pelo show da Madonna em Copacabana, eu estou bem mais preocupada em assistir aos meus baianos favoritos.
De repente, parei em uma canção da listinha. Semana passada falei da cantora em questão e de como me arrependia de não ter levado minha mãe para assisti-la no show que fui no Canecão, pouquíssimo tempo antes dela partir, minha mãe, no caso… Não sei se por isso, é um bom ponto para pensar a respeito, mas desde que ela resolveu enveredar pelo Samba, eu parei de escutar, de me importar. Fiquei com ela até o terceiro disco e depois não quis mais seguir adiante. Nem quando ela gravou um especial com as músicas da mãe dela.
Maria Rita chegou chegando, trazendo os trejeitos, a voz e o saudosismo daqueles que cresceram com sua mãe, Elis Regina, dando a alma em cada música interpretada. O primeiro CD foi arrebatador e lembro das fanfics da época: “ela se escondeu nos EUA, cresceu estudando a mãe para agora cantar igual a ela”. A verdade é que é Impossível escutá-la e não procurar nela, aquela Elis, da minha infância - eu LEMBRO do dia da morte da Elis. Lembro da sensação e sentimentos que tive e eu não tinha 10 anos.
Pensa na loucura que foi para a Maria Rita, os comparativos, o peso hereditário, a energia de ser filha de Elis, ter a voz e o olhar muito parecidos com a mãe e ao mesmo tempo não querer/poder ocupar o lugar dela. É muita terapia, gente… Acho que até por isso, ela levou tanto tempo para cantar as músicas pelas quais a Elis fez tanto sucesso. E ficaram lindíssimas, isso eu não vou negar!
Entre 2003 e 2005, seus dois primeiros CDs foram a trilha sonora do meu carro. Nas longas viagens entre Tijuca, Barra ou Recreio - antes da gente se mudar para Curitiba. E é quase impossível escolher a melhor música deles. No primeiro: Cara Valente, Santa Chuva (foi paixão à primeira ouvida), Veja bem meu bem, a festa que é A festa, Cupido é de arrepiar, sem contar Encontros e Despedidas que chorava copiosamente sempre que escutava... Já Maria Rita Segundo abre com Caminho das águas, Recado (e que recado!), Sobre todas as coisas, uma oração mais do que uma canção, Casa pré-fabricada é para chorar do começo ao fim - e eu chorava. Acho que também era uma oração que eu fazia para a minha mãe…, Minha Alma…. Afff, na verdade me arrepio com todas elas. E gosto desse álbum para escutar no carro ou num quarto pequeno, com o som muito alto, para berrar mesmo e NÃO escutar minha voz. Experimente, é descarrego puro.
Ah! Mas calma. De todas, a que mais amo - embora, não saiba explicar o porquê, talvez seja por eu ser uma pessoa exagerada, talvez seja porque muitas vezes me contento com pouco, talvez porque pouco nunca é pouco e acredito que muito pode ser muito pouco… no fundo, eu sei e entendo que viver anda me deixando louca e nem sempre sei do que sou capaz…
Bom avisar, gosto dessa música só na versão dela, tá?! A versão do Moska - autor da letra - não gosto não! Aqui, a intérprete faz diferença!
Escute um pouco de Maria Rita. Recomendo muito!!
Obrigada por chegar até aqui.
Beijocas e até loguinho
Rê
Estou lendo em abril e o verão ainda continuou! Hahahahhah Pelo menos tivemos um gostinho a mais. Amo esse o tema envelhecer. São tantas nuances. Tão bom refletir sobre o assunto.
Dores de envelhecer... Dores de crescer... absolutamente doídas... todas elas... e cada um com as suas, rs tristes mas felizes por estar viva!
Um cuidado com o estrogonofe: checar se a mostarda e o molho inglês não contem gluten. Pq, né? o sobrinho é celíaco, e esses condimentos podem ter. Rs.... Aqui o preferido é o de frango, sabia? Sem milho, sem cogumelo, só o frango.
Estávamos na Tia Marta quando Elis morreu. Eu havia assistido ela no FICO em Bsb, ela fez o show antes do Ney Matogorsso. Nunca ouvi muito a Maria Rita, vou ouvir! Spotify patrocina o Palavras temperadas.
Te amo!