#18 E dá pra botar meu pesto no meu currículo?
A verdade que tudo é político, até decidir se coloco ou não a receita do meu pesto no meu resumo profissional
Oi, tudo bem?
Comecei e recomecei essa carta algumas vezes. A tragédia anunciada do Rio Grande do Sul, embora esteja mostrando o quanto somos gigantes em solidariedade, escancara uma batalha que, no meu entendimento, perdemos. Seja no campo das fake news e na manipulação das informações, seja em relação a um futuro sustentável e de consciência ambiental.
Muito bonito não usarmos mais sacolas de plástico, mas acharmos que o descarte correto daquele sapato que não serve mais (especialmente pela ação do tempo) serve para doação a pessoas que perderam tudo... é de uma incoerência e um tanto quanto de ignorância ambiental, social e senso de comunidade.
Aaaahhhh fica para as gerações futuras… sério? Eu quero acreditar que as gerações futuras tenham mais força de vontade e conhecimento prático para a transformação, até porque, quantas gerações futuras o nosso planeta ainda aguenta? No entanto, não é justo colocar na conta do próximo quando há ações que podemos tomar agora.
A GENTE PRECISA REPENSAR NOSSO CONSUMO.
Bens, produtos, serviços, informações e especialmente a escolha política.
TUDO É POLÍTICO.
E não estou apontando o dedo pra ninguém não. Essa conversa é principalmente comigo, porque questionar o meu estilo de vida, em especial o de consumo, se faz super necessário neste momento. As atitudes passam ainda por uma escolha (olha ela aí pautando a cartinha de novo!) política consciente e pela exigência e fiscalização tanto política quanto no âmbito empresarial (marcas que consumimos, empresas que praticam o greenwashing, etc…).
Vida adulta que chama, né?!
OBS1: escrevi sobre o sapato por conta dos vídeos que vi de calçados que foram ”doados”. Queria desver e só chorar…
OBS2: a Ana Soares fala neste vídeo sobre descarte de sapatos e é muito interessante o quão pouco pensamos sobre isso. Afinal, como você descarta seus calçados?
Meu Pesto no meu Currículo
A pauta era outra, mas acontecimentos atropelaram a vida e cá estou às voltas com o refazer do meu currículo (ainda). Uma amiga indicou um amigo que trabalha com isso e ele fez uma avaliação sobre o meu “CV” (acho que nem se usa mais essa nomenclatura, né?!). Ele repaginou, apontou os problemas, explicou a questão do foco e dos objetivos. No fundo, foi um querido, super prestativo. Colocou luz e muitas dúvidas na minha cabeça!
Levando em consideração essa pessoa que vos escreve e que faz de tudo um pouco, foco e objetivo são os pontos mais difíceis de se demonstrar num resumo sobre a minha vida profissional… No entanto, ando bem convicta (será?) que meu objetivo principal é trabalhar com produção de conteúdo ou comunicação social de uma forma geral (minha formação inicial). E justamente por conta disso, teoricamente, eu tenho que eliminar TUDO que diz respeito às demais áreas…
Pânico!
Tela azul!
Nazareth!
Peraí, como que eu vou eliminar meus últimos 14 anos de vida? Doze talvez, se espremer bem… Não consigo ou posso negar a construção da minha vida na gastronomia, que também sempre esteve associada ao meu lado de comunicadora (“comunicóloga da PUC”, duvido você pegar essa referência!). E a vontade e/ou vocação e/ou expertise de trabalhar com comunicação e gastronomia, os dois alinhados de alguma forma? Será que eu tenho mesmo que eliminar tudo?
Recentemente fui a um almoço praticamente só de mulheres, todas profissionais maravilhosas em suas áreas. Fui apresentada, a quem eu ainda não conhecia, como chef de cozinha e dona/produtora do melhor pesto da cidade.
Meu ego infla e eu me sinto uma pop star mesmo ficando super sem graça. E na mesma proporção em que eu subo no palco, eu caio em queda livre num buraco para me esconder. É mérito meu, sem dúvida, e o certo é abraçar essa qualidade mas, imediatamente, me vem à cabeça: será que fazer o melhor pesto da cidade (em uma eleição com as amizades sinceras e queridas) me qualifica em alguma coisa para além da cozinha? Será que essa característica é digna de destaque no meu currículo?
E se eu começar o documento, que muitas vezes cai em esquecimento dentro das caixas postais de recrutadores, com a receita do meu pesto, eu ganho algum destaque na recolocação? Até que ponto, eu devo menosprezar parte da minha trajetória em prol de um currículo que já nasce defasado? É fato que não tenho as respostas e por enquanto o rascunho do documento que pode me abrir as portas de uma nova etapa profissional segue só como um esboço cheio de esperança ou praticamente em branco.
Enquanto eu não o preencho com palavras efusivas e entusiasmadas do quanto eu vou fazer a diferença na vida de tal empresa, eu libero a receita do meu pesto.
RECEITA DO PESTO - O famoso!
Todo mundo sabe a receita de um bom pesto. Manjericão, pinoles, azeite de qualidade, dose exata de alho, sal, pimenta do reino e um excelente parmesão. Ah! E um pilão, para ser raiz mesmo! Certo, né?
Pois é, eu sou produtora de um pesto maravilhoso porém nada parecido com o original. Ou seja, uma adaptação. O correto nem deveria dizer que é um pesto, não é mesmo? Vixe, já vou começar o currículo com uma informação errada…
Estamos no Brasil e pinoles é impossível, financeiramente falando, de comprar. Com tanta produção de castanhas no país, por que não adaptar para uma castanha nossa? Eu optei pela do Pará, sem nenhuma razão específica, talvez o preço, mas foi a que eu mais gostei dentro da receita. Por conta do Rock Camp, onde produzimos comida vegana e por entender que há um mercado específico pra isso, tirei o queijo da produção do pesto e aumentei a quantidade de castanha do Pará - entenda, não é uma substituição propriamente dita. Além do manjericão, já experimentei fazer com folhas de cenoura, rúcula e salsinha. Todas ficam ótimas, embora com a rúcula, o amargor no final da boca seja mais forte. As folhas de cenoura, eu pego na feira de orgânicos aqui perto de casa e acho que fica uma opção mais em conta, mas sempre com quase a mesma quantidade de manjericão. Serve para fazer render mesmo. Pela praticidade, em casa uso salsinha.
Tenho um sério problema aqui - que acontece com muitas coisas que eu faço na cozinha. A receita do meu pesto é muito de olho, por isso, vou tentar reproduzir em palavras, a última versão que fiz aqui pra casa!
Ingredientes
1 maço de manjericão (só as folhas)
1 maço de salsinha (só as folhas)
1 dente de alho - eu gosto do sabor mais leve de alho
250 ml de azeite
1 punhado de castanha do pará - quando digo um punhado é uma mão cheia mesmo!
Sal e pimenta do reino moída na hora
Preparo
No liquidificador, bata o alho com o azeite, sal e pimenta do reino. Acrescente as folhas, bata o suficiente para elas se processarem, mas não pro líquido ficar super lisinho. Processar muito as folhas, pode trazer um amargo incômodo. Por último, acrescente as castanhas e bata rapidinho. Eu gosto quando fica com alguns pedacinhos. Prove o sal, a pimenta e pronto. Sempre guarde em pote hermeticamente fechado e se colocar em um recipiente que não preencha todo com o líquido, coloque um saquinho daqueles de congelar por cima, para o pesto não oxidar.
Mercearia da Vidal
Assisti, finalmente, ao Baby Reindeer. É muito impactante e deveríamos falar mais sobre as camadas embutidas no drama. A gente sabe que está abusando do outro e sabe que está sofrendo abuso. A gente só não quer admitir nenhuma das situações.
Li Um Prefácio para Olívia Guerra, da Liana Ferraz, atriz e escritora que conheci pessoalmente em sua última passagem por Curitiba. Ela tem um projeto chamado Escrita Matinal que é muito interessante. O livro é bom, mas tem muitos gatilhos, como a mãe suicida e as relações familiares mal resolvidas. Família é a nossa base, mas também pode ser nossa destruição, nosso trampolim para sucesso ou fracasso - na mesma proporção. E a culpa vai ser sempre da mãe que está por ali. Você pode até se considerar a mãe perfeita (que nunca vai ser) ou a mãe possível naquele momento, mas você nunca vai entender todo o furdunço que causou na cabeça do seu filho.
Peguei no instagram da Patricia Parenza este link que se transformou em uma grande plataforma, com a lista completa de todos os abrigos no Rio Grande do Sul e tudo o que cada um precisa. É um caminho confiável e seguro para quem está se mobilizando e querendo ajudar. Se a vida não está fácil para quem está seco e seguro, pense o quão difícil e triste para quem está no meio da lama e do caos.
Dois perfis de jornalistas sérios e que admiro, que entendem de meio ambiente e política, e sabem que estamos vivendo um momento muito duro e de muita transformação. Acompanhe André Trigueiro e Pedro Doria (aliás, vale assinar a newsletter do Meio também. Todo dia de manhã, as principais notícias do Brasil e do Mundo no seu e-mail).
Qual é a música, Pablo?
Semana de aniversário do Ro e, musical do jeito que ele é, nem consigo dedicar uma canção pra ele. Cheguei a pensar em juntar todas as amigas musicistas e tentar fazer uma música, porém, sem dotes musicais, desisti. De qualquer maneira, deixo registrado aqui uma das minhas músicas preferidas da vida, de um dos filmes preferidos da vida. Atenção!! Eu já era fã dessa música, assim como do filme, muito antes de conhecê-lo e de entender a paixão dele por trilhas sonoras. Cinema Paradiso é um primor (entendidos dirão que não) e Ennio Morricone estava no auge (entendidos dirão que não, de novo!) de sua forma ao compor essa trilha.
Vem escutar e chorar aqui comigo, lembrando da cena do Toto adulto (lindoooooo) assistindo aos beijos censurados. (Escutei a trilha toda de novo… Maturity é de morrer…. )
Feliz cinquentinha, Ro!
Obrigada por chegar até aqui.
Beijocas e até loguinho,
Rê
NOSSA... que carta mais cheia de questionamentos, informações! Eita!
TUDO É POLÍTICO sim!! E não me venha falar que não gosta de política! rs... tanta coisa para conversar e discutir e aprender, e as pessoas querem passar pano pra políticos e seres abjetos que se dizem políticos... enfim...
Comecei a ver o baby Reindeer... mas não consegui! Parei... gatilhos demais .... vou tentar novamente!
Nem vou falar da parte de ser mãe... me empresta o livro, rs... Freud é um cr3tino, pronto, falei!
Cinema Paradiso... amo, choro... há muito não ouço! Vou me encher de coragem para ouvir, pois... gatilhos aparecerão com certeza!
Quanto à questão principal: eu colocaria o desenvolvimento do Pesto em seu CV. Acho que é uma demonstração da sua criatividade, inovação, pensar fora do padrão e resiliência. Testou até conseguir achar um pesto vegano que é MARAVILHOSO mesmo. Como não colocar isso no CV.
Ah, mas é da área de gastronomia e não de comunicação. Será? Vc se comunica com a comida tb, não? Lembra do Like Water for Chocolate?
bjs