Oie, tudo bem? Como você está?
Que tempo louco, né?! (comecei a escrever essa carta logo depois daqueles dois dias de calor insano e a mudança brusca para chuva e frio em Curitiba, mas que rolou em quase todo o país). Parece conversa de elevador, mas juro que não é. Só para quebrar o gelo inicial dessa segunda carta.
Pensando bem, deveria ter começado com um CARAMBA!!!! Que alegria que estou sentindo! O retorno de quem tirou oito minutinhos (no app do Substack você consegue ver quanto tempo dura a leitura da newsletter!) foi muito bacana e eu fiquei bem feliz. Um tico orgulhosa, não vou negar. Lembrei dos tempos de abrir a caixa de correio (física, no caso) e encontrar aquela cartinha da melhor amiga ou de um amigo que há tempos não conversava. Alô, Dani, meu Xóven, grata surpresa receber seu comentário!
E é isso, cá estamos e sigo ansiosa para escrever e contar mais um pouco de tudo que tem dentro dessa caixola aqui. Primeiro pensei em escrever amenidades – quando você receber essa carta, estarei desfrutando de férias na Bahia (sorry….), André fez 14 anos (como assim?!?), ministrei a conversa no Gole de Cultura da Gabo Livros e Vinhos, sobre o Nick Hornby (até pareço importante, gente!), os 50 estarão chegando efetivamente - xô inferno astral - e por aí vai... foi quando lembrei que é importante manter a seriedade e que tenho um compromisso de me ater a uma pauta pré-estabelecida com a minha editora. Chique, né?!
Ops, bela deixa para apresentar a Priscila Schip, mais um presente do Rock Camp Curitiba – vocês irão ler muito sobre este projeto por aqui – que topou a loucura de me ajudar nas edições dessas cartas. Geminiana talentosa e super inteligente, artista e uma cabeça pensante de uma geração conectada, contestadora e mais analisada que a minha! Vem conhecer mais essa criatura aqui e aqui.
Lembra que eu comentei na última carta que teremos seções por aqui? Vamos a mais uma, então?
Chiado: embora eu sempre ouça que o meu sotaque é lindo, já sofri muito por me retratarem como um rádio fora de sintonia, um chiado sem fim. Talvez seja mesmo. E como sou do tempo das antenas de TV dentro de casa, resolvi chamar essa seção de Chiado. Faz sentido? Talvez não, mas vamos ter divergências e muita falação por aqui e a ideia é encontrar no seu dial (quem pega essa referência?) preferido dicas de música, filme e/ou séries – estes últimos, se possível, que tenham uma ligação com a comida seja na história ou apenas em uma cena.
Chiado #1
O Urso
É bem provável que você já tenha ouvido falar desta série ou até mesmo tenha assistido (especialmente se você é fã e/ou consumidor deste tipo de produto). Lançada no ano passado (2022), criada por Christopher Storer, dirigida por ele e Joanna Calo (que também é a produtora), a série seria inicialmente um filme, no entanto, ganhou a versão estendida graças a intensidade do enredo. Tanto pela quantidade de histórias por trás da produção como pela necessidade de mostrar o caos do cotidiano numa cozinha desfuncional, acredito perfeitamente que fosse impossível fazer somente um filme.
O resumo da história, de forma simples, é: jovem chef estrelado da alta gastronomia de Nova York, volta para Chicago para administrar a lanchonete da família The Beef, após repentina morte do irmão.
A primeira temporada tem apenas 8 episódios absurdamente frenéticos e intensos, em diálogos, ações e reviravoltas.
Algumas curiosidades sobre a série - muitas, eu nem sabia quando comecei a assistir:
Foi inspirada em um restaurante real de sanduíche de carne em Chicago, Mr. Beef, inaugurado em 1979. O criador da série, Chris Storer cresceu na região e era amigo do filho do proprietário, Joseph Zucchero.
Aliás, Zucchero faleceu em março deste ano, mas a família pretende manter o icônico Mr. Beef aberto e seguir atendendo seus famosos clientes como Jay Leno e Joe Mantegna.
O 7º episódio tem um plano-sequência de cerca de 20 minutos onde tudo acontece. Sem nenhum corte ou edição, a cena foi filmada 5 vezes e saiu perfeita. A sensação de claustrofobia, de você perder o fôlego, é impressionante. Conselho: termine o episódio, tome um trago, vá pensar no cantinho e só assista ao episódio final no dia seguinte.
O ator Matty Matheson, cujo personagem é o faz tudo Neil Fak que não sabe cozinhar, é chef de cozinha de verdade verdadeira. E pelo que entendi, é bem conhecido no Canadá, onde comandou dois restaurantes em Toronto e foi apresentador de programas de TV sobre gastronomia. Além de atuar na série, ele foi o consultor de culinária, justamente para mostrar um lado mais real e cruel do mundo gastronômico.
Legal, Rê, mas porque você gostou da série? É óbvio que amei pela questão da cozinha propriamente dita, por mostrar o dia-a-dia e o lado nada glamoroso e estressante que é manter um restaurante. No entanto, achei tantos meandros ali de relações humanas que embora não pareça, a comida fica em segundo plano. Tem luto, abuso de poder, volta pra casa, família, problemas de adaptação, aceitação do novo ou o mais novo (no sentido de idade mesmo). Além de vícios, lei de mercado e aprendizados como oportunidade para crescimento pessoal e profissional. É quase um plano-sequência dos dilemas dramáticos da vida real. São camadas e mais camadas onde caberiam algumas análises psicológicas de quase todos os personagens ali expostos.
Alias, a psicanalista Aline Lima escreve no Instagram muito sobre cinema/séries sob o ponto de vista da análise psicoterapêutica dos personagens. O último post dela (pelo menos era quando estava escrevendo aqui) é sobre a segunda temporada da série que acabou de estrear. Ainda não comecei a assistir e não quis ler para não receber spoilers, mas gosto bastante de como ela descreve os personagens e suas nuances psicológicas. Para quem gosta do tema, vale seguir.
E ai, vai preparar um banquete (tá bem, fica com a pipoca mesmo) para assistir O Urso? Assim que eu voltar das mini férias eu começo a segunda temporada.
Este ano, quem me acompanha em outras redes sociais ou esteve mais perto, sabe que tive uma passagem relâmpago pela editoria de Gastronomia de um jornal da cidade. Foram só três matérias, muitas ideias, um sonho parcialmente realizado e muita frustração. Agradeço demais a Yasmin Taketani pela oportunidade, mesmo que ligeira. Nesse curto espaço de tempo, tive a honra de escrever sobre os Takeuchi. Paguei (contém ironia) e comi por um ramen delicioso, mas principalmente pude conhecer essa família querida, determinada e muito calma. Vou dar audiência (com um certo ranço, é verdade), mas a matéria ficou linda, então, clique aqui, caso não tenha lido.
Um nariz de cera completo (velho jargão jornalístico) para dizer que no meio do caminho ficou uma pauta encaminhada, mas não publicada. E ai pensei, porque não dar vazão a ela por aqui?
Coquetelaria clássica: o hype do Milk Punch
A gente sabe que clássicos nunca saem de moda, não é? Seja no vestuário, nas artes ou mesmo na gastronomia. E sim, na coquetelaria também. Que o diga os sempre famosos Negroni, Manhattan (meus preferidos!) ou Dry Martini. Não importa se a carta de drinks não os contemple e fique só nas misturas dos mixologistas de plantão, se você pedir, o bartender irá te atender na hora com a dose certa.
E revisitar os clássicos também faz parte da história. Seguimos esperando alguém ressuscitar o coquetel de camarão bem oitentista e dizer que é a última moda. Eu amo! (só por favor, deixem o tomate seco com rúcula de lado...) Mas, enquanto isso não acontece, um dos pilares da coquetelaria clássica começa a reaparecer em bares mais sofisticados do mundo. O Milk Punch ou em português límpido, drinks clarificados. Para você ter uma ideia, em Nova York, já tem bar que só serve bebidas nesta categoria. (tem link para essa matéria)
Em Curitiba, alguns bares já estão com essa divisão em suas cartas e outros, os mais secretos, só em dias especiais ou quando o cliente pede para o bartender produzir na hora.
Mas, afinal, o que é esse tal de Drink Clarificado?
Não, não é modinha. Embora seja alta coquetelaria, os drinks clarificados tiveram seu momento de auge nos anos 1920. No entanto, as lendas sobre como eles foram descobertos remetem aos tempos das grandes navegações, quando se misturava leite com o rum a bordo. E para completar, açúcar. Em determinado momento, foi adicionado um item cítrico, talhando a mistura: o que sobrou foi um produto claro e alcoólico. Teoricamente, com proteína para alimentação. Devia ter perguntado sobre isso a uma nutricionista. Mas não deu tempo. Afinal, lenda é lenda. Ainda mais as que envolvem piratas!
Pesquisando melhor, você chega a informação que a clarificação de misturas alcoólicas é uma invenção inglesa do século 18, com o objetivo de preservar o coquetel pronto e suavizar o gosto do destilado da época, nem sempre de boa qualidade. Agregava-se leite quente, o mesmo talhava e o líquido, ao ser filtrado, envelhecia em barris de forma mais translúcida. Isso também foi feito com as cervejas para tirar as impurezas. Hoje, há diversos métodos de fazer essa clarificação, passando por centrífuga de farmacologia ou apenas um funil de separação, normalmente usado em indústria química.
Conversei com o Igor Bispo, o mixologista hype da cidade, que comanda o bar secreto Continental - quero muito ir, alguém me chama, por favor?! -, e ele me explicou que todo drink pode ser clarificado, mas nem todos precisam ou deveriam ser clarificados. “Eu não vejo sentido, por exemplo, em você clarificar um Espresso Martine. Eu gosto daquela coisa da textura, do licor. É uma técnica que deve ser usada com parcimônia”, me diz ele.
Além dos processos auxiliados por centrífuga ou funil de separação, o drink clarificado por ser feito por precipitação, ou seja, gravidade. Ele fica descansando e naturalmente as partículas são separadas. “Esse é o método mais fácil, mas, também o menos eficiente, digamos assim”, conta Bispo que aponta ainda a perda de sabor e qualidade do líquido obtido.
Importante lembrar: translúcido não é necessariamente sem cor.
Depois das conversas que tive e do que li, a impressão que fica é que o resgate dessa técnica secular mostra que a coquetelaria moderna está em busca de “novidades” para além da mixologia. E de novo, revisitar clássicos faz parte da história.
Não lembro de ter provado um drink clarificado, mas entrou para a minha lista de desejos!
Aproveito e deixo aqui dicas de bares na cidade com drinks clarificados.
Continental Studio – Bar Secreto
Qual é a música, Pablo?
Depois de passar semanas escutando a playlist baseada no livro do Nick Hornby, Alta Fidelidade, enquanto estudava sobre o livro, volto para a minha lista das 50 músicas preferidas de todos os tempos. Penso que vai ser muito difícil restringir essa lista, pois a preferência de gosto vai mudando ao longo do tempo. Mas acho que Polaroides não sairá tão cedo das Top 50. Gosto da sonoridade, da letra, de uma lembrança de andar de ônibus indo para a Fiocruz trabalhar. Talvez me lembre o Rio, talvez me lembre de uma busca pelo amor, talvez me lembre de mim mesma.
Caramba!!! Escrevi, heim? Agora vou voltar pras mini férias familiares, tá?! Na próxima vou trazer minhas impressões sobre a Baêa. Pense numa quantidade de coisas que tenho pra te contar!
Obrigada por chegar até aqui.
Um beijo grande e até loguinho.
Rê
Gente! Amei saber sobre história de drinks e cervejas. Não tinha ideia disso! Palavras Temperadas é cultura em todos os sentidos.
achei que o drink clarificado era SEM álcool... provei um maravilhoso outro dia, no GUM, em Santa Cecília, SP.
Louca para ler o Alta Fidelidade, e seguir as músicas tb.... 50 músicas... caramba... só tu mermo!
Chiado? só para! coisa marlinda, gentche!