#37 Procura-se no Google desesperadamente e outros
Depois de um longo verão, Palavras Temperadas volta com tudo e com nada ao mesmo tempo e agora.
Oi, tudo bem?
Essa aqui seria uma news extra, daquelas que eu não mando por e-mail. Não rolou. Vou fingir demência, manter a sequência da numeração, vai por e-mail e está tudo certo. Desde a última cartinha, mil coisas aconteceram e nesse período me empolguei, me desanimei, me enchi de informação, quis fazer um monte de coisas ao mesmo tempo e tudo saiu pela culatra. Mercúrio retrógrado, dizem. Na verdade, nem é tanto drama assim, ajudou a amadurecer algumas ideias e a comprovar que, por mais planejamento que se faça, a vida acontece.
O bom (ou o ruim) é que acumulei tanta conversa, que tem muito papo por aqui. Você que lute para ler tudo!
Ah!! Já fiz as novas fotos com a Helena Peixoto (que ficaram lindas!) e em breve retorno com a news sobre comida e arte. (eu disse em breve, não quando…)
Procura-se no Google desesperadamente
Há pouco tempo saiu uma notícia sobre o aumento na busca pelo tema perimenopausa e menopausa no Google. É fato que livros como o da Miranda July e o da Naomi Watts (aceito presente), podcasts e redes sociais que falam sobre o assunto ajudam nessa procura. No entanto, tenho a impressão que essa mulher de 45+ está começando a entender uma questão, como bem descreve a jornalista Talita Duvanel, nessa reportagem do Jornal O Globo: “... ela não o enxerga (o período) como o fim da linha, e sim uma nova viagem. Mais do que cair num precipício sombrio, as mulheres querem se permitir um mergulho em águas por vezes revoltas, é verdade, mas cheias de possibilidades”.
Voltando à pesquisa e ao meu ponto de vista sobre ela ter virado matéria em jornal: nós mulheres PRECISAMOS falar sobre o assunto. Sem certo ou errado, sem lição de moral ou julgamentos. Conversar, trocar, acolher as inseguranças e mudanças sentidas. Ouvir. Se ouvir. Ser ouvida. E sim: termos representatividade, com mais livros, podcasts, filmes (menos clichês, de preferência), séries, notícias, rodas de conversas e pesquisas, onde possamos nos enxergar.
Um ponto que também me pegou nessa reportagem foi sobre o fato de conversarmos com nossas filhas (ou como filhas, nossas mães conversarem conosco) sobre a primeira menstruação. Em muitos casos, até ritualizamos a menarca - o que é lindo e muito simbólico. No entanto, pouquíssimas de nós, mulheres que hoje estão na faixa 45+, conversam ou conversaram com suas mães sobre a menopausa delas.
Infelizmente, não posso ter essa conversa com a minha - ela se foi há mais de 20 anos (embora tenha uma ideia do que ela me contaria). E se eu puder dar um conselho, independente da sua idade, CONVERSE com a sua mãe, tia, madrinha, irmã/prima, mães das suas amigas e amigas.
Converse com uma mulher mais velha que você.
Não precisa criar um quarto como escudo protetor para ter a conversa (quem pegou a referência pegou). Crie sim, oportunidades gentis e amorosas para entender o que essa mulher passou. Talvez a tendência seja ela dizer que não sentiu nada, não ficou com nenhuma memória importante que possa servir de exemplo. Acredito que seja um mecanismo de defesa nosso para atenuar todo esse imbróglio pelo qual passamos.
Tenho pensado que estamos com a faca e o queijo na mão para que as próximas gerações aprendam que também é possível criar rituais e celebrar seu último ciclo - assim como a primeira menstruação.
Hoje, pra mim, a celebração é pelo início dessa queda de pudor sobre o assunto. É pouco? Sim, MUITO pouco! Especialmente o reconhecimento da mulher sobre a sua própria condição na perimenopausa. A aceitação real desse processo. O tabu, o preconceito e o medo ainda são gigantescos. (e isso que sigo falando do alto do meu privilégio)
Torço muito para que você tenha oportunidade de contar com essas mulheres. Assim, lá na frente, num momento propício, você consiga conversar com suas filhas, sobrinhas, afilhadas ou filhas das suas amigas. É sororidade, é a trajetória feminina, é a oportunidade que temos de levar ainda mais conforto e generosidade às próximas gerações.
PS1: fiquei tão envolvida com o livro da Miranda que não reparei no precipício da capa… o que vi foi um entardecer. E eu gosto desses dois olhares…
PS2: Ainda sobre o livro: vale escutar o podcast da 451, com a musa Branca Viana (sério, o que é a voz dessa mulher!?) e com a tradutora do livro da Miranda, Bruna Beber. Contém muitos spoilers, então leia o livro antes de ouvir.
Ainda sobre o assunto: recomendo demais esse texto da Alessandra Nahra. Que ainda vem com um vídeo perfeito com as musas: Tina Fey, Julia Louis-Dreyfus, Patricia Arquette e Amy Schumer. Hilário e muuuuuiiiittoooo bom. E é isso, bora seguir como uma belíssima velha gostosa. Eu sou!
Fui seletora por uma noite
Montar um set de duas horas com vinis para uma festa foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida. Ritmos que se conectam, artistas que juntos fazem sentido, estilo, época, animar a pista, pausa para a galera fazer xixi ou pegar bebida. Tudo tem que ser levado em consideração.
Super me animei quando a minha amiga Márcia, ou Selecta Manzana ou ainda, Maçã para os íntimos, me convidou. No mês da mulher, a festa Na ponta da agulha, idealizada por ela e realizada no Negrita Bar, seria só com as gatas. Eu (ops, me achei!) e a gatérrima Carol Andrade que tem os vinis mais bacanas e coloridos do planeta.
Duas semanas antes, o Roger também foi convidado pela Maçã para levar sua coleção de vinis de trilhas sonoras para uma festa do Oscar, promovida pelo espaço Love City. E foi demais! O repertório dele, a festa do Oscar, a premiação do Ainda estou aqui e tanta gente na rua celebrando que a vida presta em pleno domingo de carnaval!
Acompanhei a saga dele para selecionar o repertório e embora tenha visto como funciona, não dimensionei a trabalheira.
Na primeira seleção que fiz, juntei mais de 5h de músicas depois de escutar uma quantidade absurda de LPs. Aos poucos fui refinando e por ser um espaço com uma pequena pista de dança, precisei priorizar as músicas mais dançantes. E ainda assim, manter uma certa personalidade, com Barbra, Ella, Rita Lee, entre outras.
Ao formar a lista quase final, acabei criando uma narrativa que fazia sentido só pra mim. Tinha muito do meu gosto pessoal e do meu jeito que tenho de rir de mim mesma. E lá fui eu! Taquei muita música nacional, MPB, BRock oitentinha, além de clássicos do pós-punk do final dos anos 80, passando por Rick Astley, Frenéticas, New Order e Chico Science. Ou seja, uma bagunça.
Foi muito divertido e acho que consegui divertir quem foi. Aliás, amigos queridos que sempre me acompanham nas minhas loucuras!
Agradeço à Maçã pela oportunidade e noite linda que passamos. Com quase 52 anos me atrevi a fazer algo que nunca imaginei fazer na vida. Me desafiei, coloquei minha cara a tapa. Paguei o mico que queria, mas vivi uma noite muito legal e especial.
Aproveito e deixo aqui a playlist oficial/final de todas as faixas que levei (algumas acabei não tocando, pelo tempo e pelo público!). Espero que você goste também.
O papel do planejamento urbano na alimentação das cidades
Agora em março, participei da Oficina Alimenta Cidades Curitiba. Infelizmente, por motivos de viagem urgente, não fiquei nos dois dias de oficina e nem fiz as visitas técnicas oferecidas. Vou programá-las por fora e depois conto melhor.
A oficina foi promovida pelo IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), que ocupa um espaço lindo na região do Juvevê desde 1965, quando foi criado.
O convite veio da minha amiga jornalista Lívia Leprevost, carioca quase curitibana, que trabalha no Instituto e sabe do meu envolvimento com a alimentação, comida e gastronomia.
O evento foi para o lançamento do estudo Os caminhos da comida: o papel do planejamento urbano na transformação do sistema alimentar. Além das formalidades de um evento que envolve um órgão municipal (fala do prefeito, secretarias, representantes de diversos outros órgãos e sociedade civil), achei interessante encontrar integrantes da Ação da Cidadania, movimento criado pelo sociólogo Betinho, em 1993, cujo lema principal é: “quem tem fome, tem pressa”. Lembro de acompanhar toda a criação do projeto lá no Rio de Janeiro e das primeiras campanhas contra a fome que atingia o país. Uma pena que, tanto tempo depois, a gente ainda precise que essa iniciativa seja tão atuante quanto há 30 anos.
Ponto importante: Curitiba foi pioneira ao ganhar o Selo Betinho que reconhece as capitais brasileiras comprometidas no combate à fome e na promoção da segurança alimentar. Concedido anualmente pela Ação da Cidadania, o selo atesta que essas cidades estão cumprindo as metas estabelecidas para garantir que seus cidadãos tenham acesso a uma alimentação adequada e duradoura. Tomara, né!?
Sobre o lançamento do estudo, o que mais me chamou a atenção, além da ideia de pensar o planejamento urbano como veículo de transformação do sistema alimentar da cidade - e entender a importância absurda que isso tem -, foi, de forma didática, compreender terminologias que hoje estão sendo divulgadas sem muita explicação.
Afinal, você sabe o que são Pântanos, Desertos e Miragens Alimentares?
Desertos Alimentares: quando a disponibilidade e acessibilidade aos alimentos saudáveis são limitadas em 0 a 5 estabelecimentos em até 15 minutos de caminhada.
Pântanos Alimentares: onde há abundância de estabelecimentos que oferecem opções alimentares não saudáveis (15 ou mais estabelecimentos em até 15 minutos de caminhada).
Miragens Alimentares: quando há acesso físico aos alimentos saudáveis mas não o acesso financeiro.
Curitiba, sendo a capital com mais feiras orgânicas do país e que já foi considerada a mais ecológica, tem espaço para pensar e implementar ações através do planejamento urbano que possam promover segurança alimentar e nutricional de seus cidadãos. Envolve uma melhor compreensão do poder público quanto a demarcação de suas áreas construídas, além de programas para a criação e desenvolvimento de hortas, agricultura urbana, programas de compostagem, entre outras iniciativas pertinentes.
Para você ter uma ideia, o estudo mapeou mais de 1.500 produtores orgânicos certificados na região (Curitiba, Região Metropolitana e Litoral). Isso é um privilégio. E se o planejamento urbano não for feito olhando para essa questão, corremos o risco de criarmos regiões mais abrangentes de pântanos, desertos e miragens alimentares.
O estudo está disponível aqui. Vale a pena entender.
Vi esse aviso em uma newsletter e trago pra cá: todos os links da Amazon publicados nas minhas cartinhas fazem parte do programa de afiliados. Não altera em nada o valor dos produtos para o consumidor, mas me dá uma porcentagem - bem pequena - dos lucros da Amazon (risadas nervosas) com a compra através dos mesmos.
Obrigada por chegar até aqui.
Beijocas
Rê
Que bom aparecer aqui! Grata pela indicação!
Não sei se tu já leu esse, olha que lindo (e as pinturas!): https://kimfoster.substack.com/p/on-getting-old
As fotos da festa me lembraram que no chat da Miranda aqui no Subs as leitoras de All Fours começaram a organizar encontros presenciais em suas cidades, já pensou que legal?