#6 Na marra
Quando escrever sobre o que se sente se torna um martírio. Quando escrever sobre o que se sente ajuda a entender os sentimentos.
Oi, tudo bem?
Minha amada editora me deu um puxão de orelha e estou escrevendo esta cartinha bem antes da sua publicação. A ideia é que ela me oriente melhor na produção do texto, exercendo efetivamente a sua função de editora, e não apenas de revisora. E pra isso, ela precisa de tempo e está coberta de razão em puxar minhas orelhas. Eu que lute. Por isso, talvez hoje, a cartinha possa trazer um mix de sentimentos, pois estou escrevendo na marra e com muita coisa à flor da pele. Embora tenha muita história para contar, está tudo tão embaralhado aqui dentro que até escrever sobre isso está difícil.
A obra no quarto está nos finalmente, aleluia amém. Faltam detalhes, como o vaso sanitário, mas tudo bem, né? No fundo, minha reclamação ou considerações sobre a obra é um grande “white people problem”... vai ficar lindo e confortável. Já é bastante coisa!
Sobre um domingo corajoso
Eu ia escrever em um post no Instagram. Teoricamente teria mais alcance, ganharia mais biscoitos (tem horas que é importante…) e etc. Mas pensei que poderia ficar superficial, tem muitos pormenores nessa história toda e preferi trazer pra cá. Fiz só um stories porque ando aprendendo que tenho que me valorizar um pouco mais, finalmente.
A verdade é que caí de paraquedas, sem cordinha, e apenas a coragem me moveu para aceitar e assumir o lugar da querida jornalista Yasmin Taketani no Painel “Fale mal, mas fale de nós”, durante o Fórum Tutano, dentro do Festival de mesmo nome, criado e promovido pelo chef, restauranter e comunicador (aqui, licença poética minha mesmo), Beto Madalosso.
O painel era o mais controverso, comentado, disputado, criticado e elogiado de todo o fórum. Teve gente que não foi por causa de um dos convidados da mesa de discussão - assim, como teve gente que não foi para não dar dinheiro para o comunista de iPhone, como o Beto também é conhecido….. #ironia. E teve muita gente que quis ir, para assistir o MON - onde foi realizado o evento - pegar fogo.
A composição era: Flávia Schiochet, jornalista premiada da cidade que tem uma newsletter quinzenal, a Fogo Baixo; Carlos Dória, sociologista e autor de livros sobre a culinária brasileira e Ian Oliver, dono do perfil no Instagram O Crítico Anti Gourmet - conhecido pelas críticas ácidas e um tanto quanto irônicas. E que, recentemente, ganhou notoriedade em Curitiba pelos posts referentes ao Restaurante Manu, comandado pela chef Manu Buffara, colecionadora de prêmios e queridinha (será?) da cidade.
E é por isso que a história tem várias nuances. Da minha parte, eu até agora não entendi porque aceitei o convite da Yasmin. Penso que foi por solidariedade e lealdade à ela, que estava passando por um momento difícil na vida pessoal. Penso também que foi um pouco de “agora é a minha vez”, ou seja, ego mesmo. E penso que… não pensei, né? Topei e pronto. O fato é que, com antecedência e tempo de estudo, haveria 80% de chances de eu não aceitar. Imagina de um dia pro outro? Eu nunca teria (ou deveria ter) aceitado. Ou seja, foi um impulso, daqueles que você nem verifica a cordinha do paraquedas, apenas pula e vai. A morte é certa, sem dúvida. Ela só não precisa ser tão dolorosa como foi pra mim.
Obviamente que não importava se eu estivesse ali ou não, porque quem estava participando do evento, queria mesmo ver um embate sanguinolento com os outros convidados e plateia. E aqui começa o segundo ponto dessa enxurrada de sentimentos que vieram à tona.
Eu sabia da iminência desse embate. Eu sabia que era esperado de mim esse papel de sacudir os ânimos e eu tinha até “cola” da Yasmin para aproveitar as deixas. Mas, por medo, insegurança ou por não me achar preparada efetivamente para os questionamentos levantados, me tornei um peso morto diante do público presente. Apenas escutei passivamente um jovem lacrador de internet manter seu ar de blasé de quem não sabia porque esse tema tão simples estava sendo tratado de forma tão solene e ouvi falas de um grande estudioso que não estava muito afim de discutir de maneira abrangente o assunto. Respondi da forma que me era possível responder, não me exaltei, consegui não tremer com o microfone na mão, mas era nítido que a fala estava embargada, quase a ponto de chorar. Enrolei amadoramente e olhava pro relógio que parecia parado no tempo onde os 60 minutos reservados para a conversa levaram uma eternidade para passar.
Eu sei que a barra de exigência comigo mesma é altíssima. Sou crítica demais com os outros, mas principalmente comigo mesma (virginiana, né, mores?). Mas isso também é uma questão que se repete em quase todas as mulheres que conheço. Ali mesmo, antes de começar o debate, em conversa com a Flavia, nós duas estávamos procurando recursos, como meditação e respiração para nos acalmar. Enquanto os homens estavam tranquilos - e assim se mantiveram diante do público. A questão é, porque nós mulheres nos exigimos tanto? Por que nunca achamos que somos o suficiente? Mesmo as que se bancam, e amém que elas existam, quando saem do palco respiram como se tivessem achado finalmente a cordinha do paraquedas a tempo de abri-lo sem se esborrachar no chão. Quando somos ensinadas a nos exigir mais? Quando aprendemos que nunca seremos seguras do nosso conhecimento e aptidão? Quem, além de nós mesmas, nos coloca nessa posição de que nunca somos suficientemente boas?
Eu desci do palco e a primeira coisa que fiz foi me direcionar ao Beto e pedir desculpas. Eu pedi desculpas por ocupar um lugar que não me foi destinado inicialmente, em que eu achei que não cumpri com o papel desejado e por não criar o embate tão esperado. Como disse uma pessoa depois, só faltou pedir desculpas por nascer. Por que fazemos isso com nós mesmas? Talvez você nem se identifique com isso agora, mas aposto que já passou por isso em algum momento da sua vida.
No final, pensando sobre o evento propriamente dito, tudo foi muito cordial, o elefante continuou na sala, talvez tenha diminuído de tamanho… ou não (no caso, a forma como o influencer tratou o restaurante local), não houve guerra e todo mundo saiu como se nada tivesse acontecido. Menos eu. Sai destruída, arrasada. E ainda tive que ouvir de um jornalista que atua na cidade: “da próxima vez eu que tenho que estar ali na frente”. Confiança de homem, sabe?
Minha verdade, tentando me dar um pouco de crédito, fiz o que foi possível e fui corajosa pra caramba. Quero estudar mais, me fortalecer, acreditar mais em mim. Sei que novos convites iguais a esse não virão, mas se vierem, a ideia é que eu não precise descer do palco e me desculpar com ninguém ou ouvir de outra pessoa que ela faria melhor. Estarei munida do paraquedas que eu mesma verifiquei e com a segurança de que ele vai abrir na hora certa.
No mais, conheci, tietei e agora tenho livro autografado da Néli Pereira. Amo!
Banoffee
Quando chegamos aqui em Curitiba, em 2005, fomos apresentados a um doce que hoje é febre no Brasil todo, a ponto de ter uma rede de franquia do “original” e derivados de gosto bem duvidoso. E, claro, amamos!
No entanto, diferente do que muitos pensam, a Banoffee não é uma invenção curitibana, se quer, brasileira. Essa torta de banana foi criada na Inglaterra, lá na década de 1970 - há quem diga que foi inspirada em uma torta americana - e, o próprio nome diz, é a junção de banana com “toffee”, que significa caramelo, em inglês.
A Banoffee já virou um clássico aqui em casa e sempre a faço para amigos e família. No Natal, ela já faz parte da mesa de docesda família do Ro, que é superfã. Não entrou no cardápio da Mandarina por ser muito perecível (custos…), mas a fazia por encomenda para quem quisesse. Neste fim de semana, fiz para levar a um almoço com amigos e ficou deliciosa. É super fácil de fazer e, normalmente, é sucesso.
Ingredientes
Massa
200g de biscoito tipo maizena
100g de manteiga temperatura ambiente
Recheio
300g de doce de leite pastoso
5 a 6 bananas caturra
400g de creme de leite fresco
Modo de Preparo
Triture o biscoito até virar uma farofa e misture com a manteiga para virar uma massa. Forre uma forma de fundo removível com papel manteiga e cubra com essa massa de biscoito e manteiga, tentando deixar uma pequena aba pra cima nas laterais da forma. Leve para assar em forno pré-aquecido por uns 5 minutos. Retire e deixe esfriar.
Espalhe o doce de leite na massa assada, corte as bananas em rodelas sobre o doce de leite. Bata o creme de leite fresco em ponto de chantilly (cuidado sempre para não virar manteiga - é num piscar de olhos…) e cubra as bananas. Se quiser, raspe um pouco de chocolate em barra por cima. Dá um charme…
Leve para gelar e sirva quando quiser.
Fácil, não? Se fizer, me conta!
Qual é a música, Pablo?
Eu não sei em que momento da vida eu deixei de escutar The Cure. Não sei se eles foram ficando com um som mais pesado ou se eu mesma fui buscando alternativas para um som mais leve, digamos. Lembro de uma certa rivalidade entre fãs do The Cure e fãs do The Smiths, quase um Fla x Flu musical dos anos 80. Se você gostasse de um, não poderia curtir o outro. Talvez por isso mesmo ou por ter ido para a Argentina e conhecido outros sons, como Depeche Mode que ainda não tinha entrado na minha vida, eu dei um tempo do The Cure. Eles estão vindo ao Brasil e eu voltei a escutá-los. Não vou ao show, é um festival, mil bandas, SP e muitos dinheiros envolvidos, mas eu lembrei que amo o The Cure e que eles tem músicas maravilhosas. Essa, em particular, é uma das minhas preferidas da vida.
Espero que você goste dela também!
No mais, vamos lá encarar a vida com coragem e uma boa dose de reflexões sobre os nossos impulsos.
Beijocas e até loguinho
Rê
Boys don't cry e as Girls aqui chorando sempre né! Identifiquei-me muito com você. Engraçado, percorrendo minha trajetória, nunca tinha me tocado que a questão de gênero era latente ali. A insegurança sempre presente, mas como nos eventos, a grande maioria era de mulheres, nunca reparei como os homens estavam sempre seguros e sempre tinham posições de destaque. Um abraço, Re!
Eu AMOOOO essa música! Eu AMOOO the cure! Mas tb dei um tempo deles... sempre volto, mas não ouço direto. Acho que quero ouvir coisas mais leves?! Sei lá... mas eles são maravilhosos!
Muito comovida com a sua escrita tão sincera sobre o quê vc fez e como vc se sentiu. Nós conversamos muito sobre esses sentimentos, não é? Mas vc sabe que vc fez o seu MELHOR no tempo que vc teve, e como foi.
Incrível como os homens se acham, não é? Donos da p0rr@ toda!
Mas vc é incrível, deu seu melhor, mostrou sua cara, e não peça mais desculpas, tá? Aprendizado constante é o que vc faz, e é o que realmente importa!
Até breve... muito breve!