#8 Diariamente, mil pop-ups abertas
Entre arrumações, São Paulo, Natal, Bobó de Camarão e Ana Belén.
Eu não sei como funciona a cabeça de vocês, isso é óbvio, mas ando pensando aqui nos esquemas da minha... Os íntimos sabem que ela é bem destrambelhada e o que mais faço é abrir pop-ups de assuntos, tarefas, ideias, pensamentos e não fechar nenhuma. Tipo aba de browser: tenho 5 mil abertas e nunca fecho o computador porque em algum momento, vou precisar voltar naquela aba que eu abri há três semanas. A arrumação da casa depois da obra está assim, ajeito uma gaveta aqui, penso que de outra forma vai ficar melhor, acho um papel de 2014, leio, lembro de outros papéis iguais, no caminho encontro um lixo, uma toalha, paro para rever se preciso de tanta toalha assim, esqueço da gaveta e retorno ao ponto zero. Seria essa desordem, um simples reflexo da vida?
Oi, tudo bem?
Como você está?
Contagem regressiva para 2024?
Pois é, joguei a braba ali na introdução e não sei muito bem como continuar. Mas a simples análise que faço é que esse modus operandi de caos na arrumação pode ser um espelho embaçado da vida ou do estado caótico em que me encontro no momento. Lembro de uma frase, expressão ou qualquer coisa parecida que uma amiga postou uma vez que falava exatamente sobre essa ideia do quanto nossa casa é reflexo da nossa vida. E eu, embora virginiana, sou caótica também em casa. É arrumadinha mas sempre acho que poderia ser mais. Está tudo no lugar - de forma lógica pra mim, não necessariamente para os outros. No entanto, me deparo de vez em quando com uma bagunça provocada por mim mesma, coisas espalhadas, fora do lugar ou sem lugar mesmo, que precisam ser encaixadas, acomodadas. Isso vai me dando uma gastura e eu tenho vontade de jogar tudo numa prateleira e deixar a arrumação para depois. E nesse momento, que me sinto em um limbo de vida - em que ainda estou processando os últimos três anos e buscando não só entender os resultados das desarrumações feitas na vida, como o quê está no porvir, - a vontade é de fazer exatamente isso: pular etapas do processo, pegar todos os sentimentos, emoções, certezas, medos, tristezas e revoltas, embolar tudo como uma trouxinha e jogar numa prateleira no fundo do armário, fechar a porta e jogar a chave fora. Infelizmente, essa solução fácil só ajuda a crescer o monstro lá dentro e quando eu abrir essa porta, ele vai me soterrar sem dó e nem piedade.
A aproximação do fim do ano não ajuda nas arrumações da vida, armários, casa e rotina. Marcar mil médicos, exames, passaporte, visto, identidade do filho, manicure (?), ou seja, tudo que não foi resolvido nos últimos 10 meses e meio…. E agora quero resolver em 15 dias, antes de chegar o meio de dezembro e o espírito (sarcástico, por vezes) de festas se instalar definitivamente. Por isso, só aceito arrumar a árvore dia 06 de dezembro. Se a ansiedade já é grande, imagina, montando a árvore em novembro? Mentira, não tem nada a ver com ansiedade. Ansiedade me dá quando vejo as pessoas arrumarem a árvore em outubro, antes do Dia das Bruxas. A data do dia 06 é só uma tradição, superstição familiar: monta-se a árvore dia 06 de dezembro, desmonta-se dia 06 de janeiro, Dia de Reis. Pronto, só isso. Aliás, por conta da obra e arrumações (quantas vezes já repeti essa palavra hoje?), a caixa da árvore está fora do armário. Chega o carnaval e não chega o dia 06 de dezembro para montar a bendita. Tradição quebrada em 3, 2. 1….
Um breve respiro em São Paulo com bobó de camarão
André ficou doente neste fim de semana e destrambelhou o planejamento que só eu tinha da vida familiar e de tudo que eu pretendia fazer. Vida também é isso, não é mesmo? Por mais que a gente faça mil planejamentos e crie enormes expectativas, tem sempre umas palavras nas entrelinhas não lidas que passam uma rasteira bem dada.
Aliás, meu planejamento para a última viagem a São Paulo foi quase isso. Fiz uma lista de lugares que queria ir. Restaurantes, museus, casas culturais, bares e afins. Alguma coisa planejada saiu a contento. Sábado, por exemplo, foi cronometrado nas atividades: Pinacoteca, OSESP, Espaço Zebra. Foi preciso e precioso! Quase perfeito, eu diria. Depois disso, fuen, fuen, fuen…. Fiquei ME devendo a parte da comida. Algumas escolhas foram frustrantes e frustradas para atender a todos os interesses das diferentes companhias. Também faz parte dos imprevistos e encontros. Mas provei o bolinho de tutano do Moela e comi um arroz de polvo perfeito, na Peixaria Bar e Venda.
Aproveitei a ida para a capital paulista para encontrar a Joana, minha amiga dos tempos de Hipermídia (duvido que alguém lembre deste programa!), que não via há séculos. Fomos ao Sotero, um restaurante de comida baiana perto da casa da minha irmã. Com uma decoração que faz você acreditar que está na Bahia, o Sotero é meio boteco, meio restaurante, simples e agradável, mas que deixou a desejar no atendimento.
Nunca imaginei um restaurante em SP que fecha às 15h e ainda vai expulsando os clientes de forma nada sutil. O papo, que merecia dois dias ininterruptos e mesmo assim nunca colocaríamos em dia, foi regado a uma cerveja gelada (poucas opções) e acarajé. De prato principal, pedimos um bobó de camarão, uma das comidas mais afetivas da minha vida. E olha, que custei a gostar de camarão...
Só fui comer camarão depois de “burra velha”, como minha mãe dizia. Diferente do André, que ama o crustáceo desde que provou e tem o Bobó de camarão como seu prato preferido da vida, seguido de estrogonofe, hambúrguer e pizza. Este prato também era uma das especialidades culinaristas da minha mãe. Outro dia, inclusive, fiquei pensando sobre isso. Já falei dos dotes culinários e de hostess dela neste post aqui:
Mas nunca externei a constatação de que comidas típicas brasileiras, especialmente as da Bahia, eram as que ela mais sabia fazer. Vatapá, bobó, cozido, feijoada… até moqueca, embora não lembre dela fazendo especificamente este prato. Talvez por ter morado na Bahia por quatro anos, talvez por gosto mesmo, não sei, não saberei e não importa. A questão é que na minha lembrança, ou fanfic, a comida baiana conquistou o coração dela.
Quando resolvi fazer bobó, já aqui em Curitiba e nem tem muito tempo assim, pedi para o meu pai a receita dela. Ele disse que não tinha, revirou a memória e me mandou fotos mal tiradas de algum caderno de receita com a letra dela. Impossível de ler. Depois, me mandou uma foto de um livro de receitas editado em espanhol, do tempo em que morávamos na Argentina.
Pesquisei um pouco, na época, para tentar ver se a receita dela fazia sentido. Descobri que o bobó faz parte da Cozinha de Origem ou Patrimonial da Bahia e que originalmente era feito com inhame e não mandioca. O restaurante Dona Mariquita, lá de Salvador e um dos melhores da cidade, ainda faz a receita original, o Ipetê ou Iorubá. Preciso voltar lá!
A receita dela faz sentido e é ótima, mas acho que pode ser simplificada e não precisa de caldo pronto, pelo amor de Oxum.
André já está melhor. Dia 16 de dezembro é a formatura do ensino fundamental. Estou pensando em fazer um pequeno almocinho para celebrar o fim desta etapa tão importante em nossas vidas. Pensei em preparar um bobó de camarão pra ele. Acho que ele vai gostar.
Bobó de Camarão da Herly
Não confio nas quantidades, quando faço, vou de olho mesmo
Ingredientes
1kg de camarão limpo (acho que vale misturar camarões mais graúdos com o 7 barbas para dar volume)
2 colheres de sopa de suco de limão
1kg de mandioca
1 cebola média cortada em rodelas
2 garrafas de leite de coco
2 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de azeite de dendê
2 cebolas médias raladas
1 dente de alho
1 lata de tomate pelado
1/2 xícara de folhas de salsinha
1 maço de folhas de coentro picado
1 pimentão verde ralado
Folhas de louro, sal e pimenta preta moída na hora, a gosto
Modo de Preparo
Temperar os camarões com sal, pimenta e o suco de limão - mas tome cuidado para que os camarões não “cozinhem” nessa mistura.
Descascar a mandioca, tirar os fios e picar em pedacinhos. Colocar para cozinhar em uma panela de pressão com a cebola cortada em rodelas e as folhas de louro. Passar pelo liquidificador com o leite de coco.
Em uma panela grande, esquente o azeite com o azeite de dendê, doure a cebola com o alho. Acrescente os tomates pelados e o pimentão. Deixe cozinhar bastante. Aqui você tem duas opções: ou você passa esse refogado no mixer para virar um creme ou deixa ele assim em pedacinhos. Acrescente o creme de mandioca e leite de coco. Tempere com sal e pimenta do reino moída na hora. Acrescente os camarões, cozinhe por 10 minutos, finalize com as folhas de salsinha e coentro (uso só coentro). Sirva com arroz branco e uma farofinha.
Qual é a Música, Pablo?
No Instagram rolam aquelas correntes e caixinhas que todo mundo reposta. “Só vale tocando instrumento”, “só vale foto no Nordeste”, “foto na praia ou um 2024 de azar” e por aí vai. Mais do que ficar vendo a imagem dos outros, o que a gente gosta é de não quebrar a corrente, manter a superstição (olha ela aí de novo) e correr para fazer a sua. Facebook feelings, eu diria. Sou adepta, não nego, e outro dia veio a da música que você gosta e não pode ser cantada em português ou inglês (o título era mais sucinto que isso, claro, mas não lembro). Entre boleros, salsas, merengues, tangos, Fito Paéz, Charly Garcia e Mercedes Sosa, resquícios de dois anos morando em Buenos Aires, a que escolhi foi uma música da cantora espanhola Ana Belén.
A Ana Martin, também espanhola e minha amiga, me apresentou a Ana Belén lá na capital portenha e eu nunca mais larguei (as duas Anas, no caso). Hoje, o Spotify me ajuda a recordar todas as músicas desse disco específico:
E me apresenta uma infinidade de produções novas da cantora, inclusive um disco de duetos com Djavan e Chico Buarque. Para a corrente do Instagram, escolhi uma específica desse álbum que mencionei primeiro, justamente porque já tinha separado Ya no puedo parar para a lista das minhas 50 músicas preferidas! Se tiver chance, escute esse disco todo. É lindo.
E aí, contou quantas pop-ups foram abertas na cartinha de hoje? Eu acho que umas 5, pelo menos.
Obrigada por chegar até aqui.
Beijocas e até loguinho
Rê
21 abas no chrome.
uma aba no excel.
duas no word.
isso no desktop!
tem outras abertas no notebook.
É isso... muitas abas abertas, vontade de fechar várias para a eternidade, mas medo de ter que voltar e não saber aonde estão! rs...
A questão de SP: cidade grande pra cacete, e suas querências estavam longe... e acabar fazendo o que o outro quer... sempre um problema, néan? Mas sabe como podemos resolver? Vc vindo mais para SP. hahahaha...