Recomendam fazer limpeza energética para começar o ano mais leve. No meu caso, foi uma limpeza intestinal involuntária que trouxe a questão de como lidamos com o nosso corpo de uma maneira muito cruel. Mas nem só de podres e dilemas vive a ser humana aqui, tem uma receita de salada para o Natal e uma das minhas musas.
Oi, tudo bem?
Quebrei a tradição, que falei na última carta, e arrumei a árvore antes (leia a legenda da foto, antes de tirar qualquer conclusão!). Se o Natal for ruim, já temos em quem colocar a culpa, não é mesmo? A lista de pendências para 2024 já preenche uma folha inteira e é isso, foi o que deu. É tanta coisa que ando adiando… certeza que, mais do que organização, falta braço, perna e cabeça para dar conta de tudo. Ou, na verdade, falta a listinha de prioridades? Momento coach do ano: o que você tem priorizado, de verdade, na sua vida?
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F5faebd8b-f24a-440c-9e02-67ba51b63b6d_1200x1600.jpeg)
André melhorou e eu fiquei péssima. Foram 8h seguidas de uma diarreia líquida, daquelas que você só quer pedir pra morrer. Mas passou… ainda mantive um estado febril e muito cansaço por mais dois dias, até que voltei a rotina da vida. Eu poderia dizer que foi um deságue da podridão que se instalou em mim neste último ano. Poderia também dizer que foi a limpeza profunda que eu precisava para expurgar os demônios que aqui habitam. Ou poderia dizer que foi uma virose que peguei do filho e pronto.
E pensando em tudo isso, trago um assunto que permeia a minha vida desde sempre. Na mesma semana em que eu vivi essa experiência horrível de não ter domínio real sob o meu corpo, uma das notícias trend das redes sociais, foi o procedimento de sei lá “influencer quem” para “limpar” o estômago e ficar com uma barriga chapada.
Corpo é uma questão muito, muito, muito séria pra mim. Em diferentes níveis de gatilhos e aspectos, tanto que nem sei direito por onde começar essa conversa. São sentimentos embolados no peito somados a um embrulho de estômago que não entra na minha cabeça o quanto AINDA estamos sujeitas a um padrão inalcançável do que supostamente é beleza.
O belo é lindo. Uma dessas frases de efeito de quem trabalha com arte ou tem uma queda por questões filosóficas acerca do que é o belo. A perfeição das esculturas de Michelangelo ou da proporção exata do corpo do Vitruvian Man de Da Vinci… Essa ilusão nos faz acreditar que é até possível esculpir os nossos corpos a ponto de atingirmos essa perfeição irreal. Mas a questão é: o que é o belo, no sentido estético do ser humano? Proporções perfeitas? Como determinamos isso? Ou quem determinou isso? E porque julgamos tanto corpos desproporcionais? Claro, estou falando de mulheres. Sempre.
Eu sou uma pessoa em luta constante contra o ponteiro da balança. É uma luta que enfrento desde que me entendo por gente, mesmo sendo magérrima na pré-adolescência ou na própria adolescência (até os 15 anos, pelo menos), quando ganhei um corpo de gostosa, com cintura, quadril e os peitinhos de pitomba cantados por Chico (não pra mim, óbvio). Muitas mudanças na vida, muitas afirmações incoerentes de quem a gente mais ama, bullying e as inseguranças desta etapa, destruíram a autoestima que estava sendo construída. E então, a guerra começou.
Já estendi a bandeira da paz, mas é uma batalha sorrateira, traiçoeira e cheia de armadilhas. Tem dias que me rendo, só quero “saúde pra gozar no final”, mas a gente sabe que não é bem assim. Vamos de trégua e autoconhecimento para se aceitar e trazer o que pode ser belo e que vive aqui dentro. Eu tenho certeza que tenho o belo dentro de mim. Não quero que ele more apenas na minha aparência. Quero que ele viva e reflita pelos meus olhos, pelas minhas ações, atitudes e perseverança. No fundo, somos julgadas pela nossa aparência física, mas dificilmente encontramos a voz da nossa beleza como deveríamos. É esse o reconhecimento que falta e que poderia nos transformar.
E às vésperas de ir para o Rio, impera a questão levantada, pois sei que, silenciosamente, este ponto vem à tona. Seja nos olhares, nos elogios disfarçados de críticas, seja nas roupas de verão que não me cabem mais. Parece que damos férias para o assunto, mas acho que é a época mais cruel do ano neste sentido.
Será que só eu tenho essa questão? Você se importa e se incomoda com esse assunto também?
Eu queria ter feito uma lista de sugestões de presentes de Natal para a cozinha. Mas falhei bonito na tentativa. Estou pensando em estruturar as cartinhas para que ela tenha esses extras no ano que vem. Será que você vai curtir?
Já que não consegui fazer a listinha, deixo aqui uma ideia para fugir do tradicional Salpicão de Natal (nada contra ele, somos super parceiros). Não me lembro de onde veio essa salada, acho que juntei duas ideias e montei uma vez no Rio, na casa de uma amiga. Depois, ela entrou no cardápio de festas da Mandarina e ainda ganhou uma versão vegetariana. Eu gosto bastante das duas versões e são ótimas alternativas para as festas de fim de ano e como salada de verão mesmo.
Salada de Grão de Bico com Bacalhau e limão siciliano
Ingredientes
300g Bacalhau dessalgado e desfiado
Normalmente, para dessalgar, eu coloco de molho por 24h, trocando a água a cada 2h. Depois cozinho o bacalhau no leite com bastante tomilho, louro, alho e cebola.
800g de grão de bico cozido - mas levemente ao dente
2 unidades de alho poró, em fatias finas e refogado até murchar
Raspas de 2 limões sicilianos
Suco de 1 limão siciliano
Queijo de cabra - aqui pode ser um queijo mais cremoso - eu prefiro
Nozes picadas
Azeite, sal e pimenta do reino moída na hora
Preparo
Não tem muito segredo, com todos os ingredientes prontos, misture tudo em uma tigela, tempere bem com azeite, sal e pimenta do reino, mas o sabor predominante é o do limão siciliano. Se o queijo de cabra for muito cremoso, o ideal é colocar por cima, quando for arrumar para levar pra mesa, assim, ele não cria uma massaroca, sabe?
A versão vegetariana é só substituir o bacalhau por cogumelo paris, bem refogadinho na manteiga e azeite, temperado com sal, pimenta e um pouco de suco de limão taiti - enquanto estiver refogando. Para a versão vegana, talvez colocar um tofu defumado fique interessante, mas nunca fiz.
Qual é a música, Pablo?
Assistiu ao Primavera Sound? Eu pulei no sofá, cantando The Cure e chorei no show da Marisa Monte quando ela chamou o Roberto de Carvalho. Olha aí a Rita dando pinta de novo.
Marisa é diva demais, não é mesmo? Confesso que tenho uma certa birra desse ar blase que ela passa, mas acho também que foi preciso criar esse personagem que ela sustenta há mais de 30 anos e é muito louvável. Escrevo sobre ela na mesma semana em que ela estava dando um show aqui em Curitiba. Não consegui ir $$$.
No domingo, enquanto montávamos a árvore de Natal, achei uns papéis antigos e tinha um ingresso do show dela, que fui ver em 1992, lá no Canecão. O primeiro, de vários em que a assisti. Em um deles, saímos da arquibancada do Canecão e sentamos em uma mesa, daquelas que ficavam bem na boca do palco. Na mesa ao lado, estava a mãe dela com a ex-sogra da minha irmã. Ela me olhou como quem pergunta: como você conseguiu comprar essa mesa? Heheheh Jovens… não recomendo.
Ao longo da vida, os dois discos que mais escutei foram: Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão e o Memórias, Crônicas e Declarações de Amor - cuja contracapa é uma foto do pé dela e o título de Textos, Provas e Desmentidos. Tenho a minha preferida em ambos: Na Estrada, do primeiro e Não vá embora, do segundo. Mas os dois CDs são verdadeiras preciosidades como um todo.
Na Estrada especificamente, é a que eu mais amo. Não sei explicar o porquê, mas era a música que eu cantava pro André dormir. Desde os primeiros dias, pegava ele no colo, deitava com ele, colocava ele no moisés ao lado da cama… se fosse para ele dormir, eu cantava essa música pra ele.
É isso, na próxima cartinha já estarei em terras cariocas, com sobrepeso das comidas natalinas, suando por todos os lados e curtindo momentos especiais. A vida como ela é, só que no Rio de Janeiro.
Puxa, agora que me toquei, FELIZ NATAL!!! Que seja um momento abençoado e você esteja cercada de paz e muito amor.
Um beijo grande e até loguinho.
Rê
Feliz natal! By the way, amei a árvore. Está melhor que a nossa, minúscula, escondida da gata e do mini-humano!
Tradição é bacana, mas romper com ela pode ser libertador.
Eu nem sei se tenho alguma... talvez escutar Marisa e Seu Jorge cantando bem alto: lá vem o sol!! ou sou feliz alegre e forte, tenho amor e sorte aonde quer que eu vá!?
Mas tanta música maneira e tão pouco tempo, não é mesmo?
Enrolando aqui para falar sobre questões de corpo e nossa doideira com ele. Nem sei o que dizer, meu amor! Eu me sinto bem com meu corpo até colocar o biquini... rs... mas uso e usarei biquini sim!
Desbundada e peituda nesse Brasil. Será que por isso sempre me senti bem nos USA?
Adoro suas cartas, pois me fazem pensar muito.
Talvez seja bacana começar um podcast? para discutir tudo isso?