Duas mulheres e seus hormônios
A comparação pode assustar e não ser justa mas a constatação das similaridades da vida hormonal das mulheres em idades diferentes é sinistra
Oi, tudo bem?
Pode ser que eu esteja impactadíssima com o livro da Miranda July, shame on me que nunca tinha lido nada dela antes. Pode ser que eu esteja com saudades dos meus devaneios absurdos nesta fase da vida. Pode ser só a constatação de como os hormônios são poderosos e fazem uma confusão geral em diferentes momentos da vida da mulher.
E antes que comece, entenda, não é uma comparação. É apenas um pensamento aleatório sobre os ciclos femininos e as diferentes fases da nossa vida.
Uma querida amiga está grávida.
Ela está ainda mais linda - a bicha é gata - e quase parindo. E vem ostentando uma barriga perfeita. Aliás, como todas são.
Eu amo ver uma mulher grávida. Eu sei do desconforto e de todas as questões que aquele espaço - no seu corpo - habitado temporariamente - por outro corpo - traz. Ainda assim, eu amo. E me assusto: você tem noção do que é um ser se desenvolver dentro de você? É um alien sendo gestado e ninguém me tira essa comparação… rs
Não foi uma gravidez fácil, mas ela conta com uma leveza que chega a ser divertido, ao mesmo tempo que dá vontade de segurar na mão e talvez dizer: só piora. Mentira, melhora, depois piora, depois… enfim, vida de mãe.
Nos encontramos outro dia, em mais uma edição do evento em que nos conhecemos, onde ela fez parte da equipe que eu coordenava por duas vezes (e dessa vez, nós não estávamos participando).
“Meu Deus, que calor”, ela exclamou e reclamou a plenos pulmões. Estava mesmo. A escola tinha aquele teto de zinco ou algo parecido e os ventiladores não davam vazão ao dia abafado. Eu também estava suando, pois modelito do dia completamente errado - mas de quem ia trabalhar até tarde.
Embora tenha constatado que detesto frio, vivo na capital mais gelada do país há quase 20 anos. E de uns tempos pra cá… a sensação de sentir frio e calor mudou muito. Sim, eu sei, aquecimento global. Mas não é disso que estou falando e muito menos das ondas pontuais de calor, os famosos fogachos da perimenopausa e/ou menopausa. A sensação que tenho é que a minha temperatura corporal mudou. O sentir calor é constante, mesmo em dias mais frios. De novo: eu sei, de sentir na pele, o que são as ondas de calor. E são duas coisas bem diferentes.
Papo vem e papo vai com a amiga grávida divagando sobre situações e sensações ao longo dos seus nove meses de gestação, me vi no espelho. Não, não rolou sessão nostalgia da minha gravidez. Me vi no espelho agora mesmo, neste exato momento da minha vida. Cansaço excessivo, sono absurdo em horários impróprios, oscilações de humor e paciência, dificuldade para dormir - opa, essa ai, salvo láaaaaaa no início da perimenopausa, amém, não tenho. E outros tantos sintomas estavam espelhados naquela mulher 16 anos mais jovem, que vem vivendo um momento beeeeem diferente do meu.
Ri alto quando ela me disse que estava fazendo fisioterapia pélvica. Atividade que eu PRECISO urgentemente fazer. Fiquei pensando, deveria entrar na agenda das mulheres: fazer unha, limpeza de pele, terapia, depilação e… fisioterapia pélvica. O quanto não temos consciência do emaranhado de músculos da região e da nossa capacidade de contrair e mexer nossas partes baixas não está no manual de uso (tem?). E nem venha me dizer que você tem o total domínio da sua musculatura da pélvis… 99% de chances de não ter. E isso, não é demérito algum. Dizem para nos preocuparmos com o músculo do tchauzinho de Miss. Pois esse deveria ser o último a prestarmos atenção.
Tem um breguetinho - óbvio que não lembro o nome - que vende em sexshop para você testar. A fisioterapeuta me indicou esse objeto - se um dia eu achar o nome/imagem, eu atualizado aqui - para fazer os exercícios em casa. Comprei? Claro que não. No único dia em que estive com ela, eu só chorava - estava no auge da desordem hormonal. Mas conversando com a amiga grávida que faz pois está parindo a qualquer momento, percebi que pode ser um bom momento para retomar o assunto. Afinal, já estou na fase de pesquisar sobre as calcinhas que não vazam. E não é a menstruação.
Comparações e brincadeiras à parte, a questão é que ser mulher é - perdão clichê - viver a vida toda dentro de um parque de diversões só de montanha-russa. E estou falando só sobre um ponto - hormônios. Imagina quando vem acompanhado dos danos, traumas psicológicos, abusos, violência, etc…
De qualquer maneira, eu me sinto privilegiada e muito mais aliviada de viver em um tempo onde - ainda - conseguimos falar mais abertamente sobre esses e tantos outros assuntos que envolvem nossa saúde, crescimento, envelhecimento, escolhas. Quando tivermos a capacidade de nos criticar menos e ter um olhar mais tolerante e carinhoso com nós mesmas e com as outras mulheres, talvez a gente domine a narrativa e ai sim, dominaremos o mundo.
Perdão, brega demais esse final… a culpa é dos hormônios.
PS: conversando com ela sobre o texto, o ponto que ela trouxe foi a questão da diferença de idade e consequentemente a forma de olhar as questões. Sua mãe, 15 anos mais velha que eu, jamais falaria em público sobre o tema. Eu, ainda não comprei o breguetinho que a profissional indicou. Ela, no entanto, já falou abertamente, em voz alta, com muitos detalhes sobre os exercícios passados pela fisioterapeuta. “As coisas são lentas, mas elas melhoram”, ela escreveu. Estou esperando por isso.
Cartinha bem aleatória, mas que estava reverberando muito na minha cabeça e precisava escrever. Semana que vem, volto com a programação normal da temporada 2025 da Palavras Temperadas.
Obrigada por chegar até aqui.
Beijocas
Rê