#27 Minha comida de aniversário
Ontem foi meu aniversário. Quem me conhece sabe: eu AMO fazer aniversário! Lutei muito para nascer e celebrar a minha vida é um ato de amor por mim mesma. Mas não comi o meu prato de aniversário.
Oi, tudo bem?
A novela Renascer acabou e eu nem fui aquela noveleira de acompanhar todos os dias. Ainda assim, embora com alguns furos de roteiro, eu achei um novelão. A construção de alguns personagens e a preparação de certos atores foi incrível. Norberto, Zinha, D. Patroa, João Pedro, Sandra e a maravilhosa Inácia… me conquistaram! Claro, a aparição de Malu Mader fazendo par mais maduro com o Marcos Palmeira…. Afffff “shippava” muito, pena que já sabia que não “terminariam” juntos. Vi o último capítulo e dei aquela choradinha básica no abraço de pai e filho.
Agora já estou acompanhando todos os bastidores do remake considerado a grande promessa de 2025. Fernanda Torres de Odete Roitman vai abalar as estruturas da teledramaturgia. Já estou com roupa de sofá!
(esse é mais um daqueles textos que comecei a escrever na oficina de escrita da Ana Holanda, ele era bem menor e mais direto - agora, inventei moda e acrescentei um monte de informação, mas acho que a essência está aqui ainda)
Minha comida de aniversário
Meu pai passou 5 dias comigo em 2018... talvez 2017. Foi a última vez em que ele esteve aqui em Curitiba. Desde então enfrenta dificuldades em pegar avião. E decretou na pós-pandemia que não viajaria mais longas distâncias. Mesmo que isso signifique só 1h10 de avião. A verdade é que pra ele sair da rotina, dormir em outro lugar, “incomodar os outros” (!), além de questões como o frio e o sobe e desce das ruas curitibanas, por exemplo, entram na coluna dos contra de viajar de um modo geral. Faz parte da vida e respeito (lembrando, ele tem 85 anos…).
Lá naquele ano, ele aproveitou o feriado prolongado que coincidiu com o meu aniversário e veio. Lembro até hoje do conchiglione recheado de creme de abóbora e camarões com molho branco que fiz no dia em que ele chegou. Ele nem é muito fã de abóbora, mas elogiou.
No dia do meu aniversário, com André na escola e o Rogerio trabalhando, saímos só eu e ele para caminhar despretensiosamente, sabendo que a hora em que chegássemos, seria a melhor hora. O destino era certo: um restaurante argentino na cidade. E o objetivo também: saborear um típico bife à milanesa.
Claro, a nostalgia não poderia faltar naquele momento. Lembramos com saudades dos tempos em que íamos ao "El Palacio de las Papas Fritas", restaurante tradicional de Buenos Aires, lá no início dos anos 1990. O bife à milanesa argentino parece uma orelha de elefante, fininho e seco. Um pedaço que pode ser saboreado por 3, 4 pessoas, de tão grande. Não no nosso caso... por mim, era uma "orelha" para cada um. As batatas fritas, super clássicas da casa portenha, chamadas de batatas souflê, são perfeitas.
Confesso que, embora essas fritas do restaurante argentino sejam incríveis, para acompanhar o bife à milanesa, eu prefiro uma bela salada de batatas, como normalmente peço no Lamas ou no Bar Lagoa, lá no Rio.
Naquele 10 de setembro com o meu pai, o acompanhamento foi uma batata frita comum, palito, bem feita, sequinha e crocante. E vamos combinar, naquele dia, o acompanhamento era o que menos importava.
Como sempre faço, pedi doses extras de limão. Limão espremido na hora, em cima do bife, para deixar ele molhado e levemente ácido, trazendo um contraste com aquela camada crocante da milanesa. Experimente…
Estávamos comemorando meu aniversário e aquelas memórias de tantos bifes devorados na capital argentina vieram à tona, resgatando uma cumplicidade que temos, eu e meu pai, com a comida. Entendi que naquele ano, meu melhor presente estava ali, diante de mim: meu pai saboreando aquele bife à milanesa carregado de memória e afeto.
PS1: Desde então, tento sempre comer bife à milanesa no meu aniversário. Ou, sou bem cara de pau e ligo para uma amiga que prepara um bife perfeito e me convido para almoçar na casa dela.
MERCEARIA DA VIDAL
Aproveitei o gancho e pesquisei: El Palacio de Las Papas Fritas, o restaurante que mencionei, existe até hoje. Obviamente, os paladares mais exigentes e que vão para a capital portenha atrás do bife de chorizo ou dos restaurantes da Costanera, não vão gostar. Mas, se um dia eu voltar a Buenos Aires quero ir até lá re-experimentar o bife à milanesa, mais de 30 anos depois...
Reza a lenda que as batatas souflê são fruto de um erro culinário lá na França. Em 1837, no restaurante do Pavilhão Henri IV, em Saint-Germain-en-Laye, durante a pré-inauguração da linha ferroviária para Paris, o chef Jean-Louis Françoise Collinet começou a fritar as batatas em fatias finas no horário programado, mas quando a estação o avisou que o trem inaugural iria atrasar, o cozinheiro parou a fritura. Chegou a hora de servir e ele reaqueceu a gordura e submergiu novamente as rodelas de batata, que incharam como bolas. E voilá…
Dois galegos fugidos da Guerra Civil Espanhola difundiram a técnica lá na Argentina e as batatas ganharam fama com a abertura do El Palacio de Las Papas Fritas, em 1956.
Tem esse vídeo aqui da Le Cordon Bleu que ensina a fazê-las para quem quiser se aventurar!
Se você não assistiu, dê seus pulos e vá ao teatro prestigiar a Claudia Abreu, em um monólogo absurdamente fascinante.
Em um pouco mais de 60 minutos, a pequena (em estatura) atriz se agiganta e dá vida à sua versão da escritora Virginia Woolf. A peça percorre acontecimentos da vida de Virginia desde a infância, passando pela morte prematura de sua mãe, o fim da vida de seu pai, seu casamento e sua produção literária. E claro, seu suicídio.
Em um pouco mais de 60 minutos, Claudia Abreu, sozinha em um palco vazio, usando apenas recursos de iluminação (o azul do rio é lindo), alguns sons marcados e gravações de trechos de livros, apresenta a misoginia, o assédio moral, a discriminação intelectual, a violência psicológica e física, a interferência sofrida em relação à maternidade e tantos outros abusos que permearam a vida da escritora.
Depois de um pouco mais de 60 minutos, a atriz é ovacionada e conta que não só escreveu, como é a produtora do espetáculo - utilizando recursos próprios e apoiadores locais - e está há 2 anos em cartaz pelo Brasil afora. Em Curitiba, assistimos ao espetáculo, que tem direção de Amir Haddad, de número 125.
Foi arrebatador.
A vida não fez jus ao potencial e à grandeza da minha mãe. O que eu sou eu devo a ela. Ela se realizou, sim, através de mim. Porque ela é a minha inspiração, sempre esteve aqui comigo, mesmo que nem sempre de maneira tranquila para mim. Escrever me libertou da dor da ausência dela, da sua voz que ecoava em mim todos os dias desde a sua morte.
(trecho da peça que me atingiu profundamente)
Claudia ainda transformou o texto da peça em livro para perpetuar ainda mais a complexidade da vida e da obra de Virginia Woolf. Já quero!
QUAL É A MÚSICA, PABLO
Estou quase mudando o nome dessa sessão. Como falei da última carta, acho que não faz mais sentido… Mas, enquanto fico divagando por bobagens, deixo aqui uma música pra mim mesma!
Afinal, meu aniversário, não é mesmo?
Uma das coisas que venho entendendo nesses últimos dois anos, talvez mais ainda no último ano, é que, de alguma forma, preciso ter calma. Desacelerar talvez seja a palavra mais certa. Tentar entender mais o tempo das coisas. Mesmo que isso não signifique ficar esperando as coisas acontecerem, apenas ter paciência e calma para que elas cheguem no tempo delas. Para uma pessoa com um nível pesado de ansiedade, não é fácil compreender assim de supetão.
É preciso estar atento para escutar, perceber e compreender. Dar o tempo das coisas, respeitar o meu tempo de respiro, de viver, de absorver as demandas, respeitar meus desejos e silêncios, entender que nãos podem ser ditos sem culpa, acreditar na minha intuição. E sobretudo, acreditar em mim mesma.
Ainda tenho que comer muito arroz e feijão para atingir essa maturidade, mas é isso que desejo para este meu novo ciclo. Que meus 51 anos sejam calmos e eu o desfrute com a Paciência necessária e com a minha alegria de sempre.
E ninguém melhor para cantar sobre isso do que Lenine. (outra hora eu volto para fazer a devida declaração de amor a ele….)
Obrigada por chegar até aqui.
Muita alma nessa calma para você também.
Beijocas e até loguinho
Feliz vida, Renata! Um ano novo cheio de coisas boas. beijos
Que venha o novo ciclo de muita alma nessa calma! Amei o texto Rê! E olha esse comentário aí em cima sobre a sua escrita? Eu concordo com ela! Você está de muito parabéns! Só continua e segue seu coração e sua intuição!