Oi, tudo bem? Como está seu mês de setembro? Aproveitou o feriado?
Comecei a escrever essa edição no voo de volta das mini férias que tiramos em Arraial d’Ajuda. Naquele momento tinha tristeza - bate sempre uma bad quando voltamos de um lugar especial, né?-, tinha nervosismo (quem me conhece sabe que tenho um certo pânico de avião), ansiedade extrema e muita gratidão. Foram dias felizes, leves e alegres. Eu e minha família, Ro e Deco - para quem não conhece -, necessitávamos de um tempo só nosso, fosse para aliviar o peso do último ano, fosse por nos colocarmos juntos novamente, tomando decisões, rindo, jogando ou vivendo o tédio de estarmos expostos ao sol e ao mar da Bahia que tanto amamos.
Voltamos dois dias antes do meu aniversário.
Pois é, cinquentei… Ainda estou às voltas com as comemorações e por mim teria festerê todos os dias até os 51…. Passei o domingo, do dia 10, cercada de muito carinho e recebendo de longe toda a boa vibração necessária.
Venho falando sobre esse aniversário especificamente faz tempo, mas a verdade é que não acordei diferente, não tive nenhuma epifania, mas continuo achando muito estranho completar 50 anos. Embora seja apenas um número, tenho pra mim que é O número. Entenda, eu amo demais fazer aniversário, muito mesmo. Celebrar a vida, as oportunidades, os erros e acertos, a alegria de estar neste espaço e tempo presente. Sobreviver a tudo, desde a gestação até agora… é coisa pra caramba. Mas não vou negar, esse aniversário foi bem diferente.
Optei por quebrar a promessa e não fazer minha festa no Rio com meu amigo Rodrigo Baú (sim, ele é um mala que amo). Fizemos juntos a de 30 anos e foi maravilhosa! Juramos que faríamos a de 50, mesmo eu morando aqui em Curitiba há quase 19 anos. Percebi que não era isso que eu queria. Foi assim que surgiu a viagem em família, só nós três, e lá fomos para a Bahia, como já disse. E foi a melhor decisão que tomei.
Acho que faz parte fazer as escolhas e abraçá-las. Aproveitei e dei um belo abraço na minha alegria e numa certa tristeza de entender que não posso tudo e há tempo para cada uma das coisas. Inclusive, aprender que celebrar a vida pode ser começar o dia do meu aniversário recebendo flores lindas dos amigos distantes e terminar o dia com uma conversa agradável com as irmãs - pessoalmente ou via chamada de vídeo.
Se sentir amada e celebrada do mesmo jeito com pequenos e sinceros gestos.
Ansiedade Mode ON
Vou ter que confessar uma coisa…. Tenho ficado numa ansiedade bem louca por conta dessas cartinhas que estamos trocando. A sensação que fico é da necessidade de escrever quase um diário para contar os sentimentos, anseios, raivas e melancolias do dia a dia. Quinze dias é tempo demais! Mas por enquanto, vamos nos ater a isso. Vai dar certo, aos poucos essa ansiedade vai diminuindo e vocês não vão enjoar tão cedo (espero) de mim. Tenho estudado sobre processos da escrita e de como isso nos atinge. O fato é que escrever não deixa de ser um processo solitário, mas quando conseguimos atingir o outro - não de fazer a carta chegar, mas de reverberar em algum lugar dentro do outro, que ressoe no que outro está sentindo, tudo faz mais sentido dentro deste processo. Ainda estou encontrando o meu, criando hábitos e diminuindo barreiras. Não vou dizer que esteja sendo fácil, mas estou torcendo pra gente se atingir de forma prazerosa e coerente.
Tinha um Traço no meio do caminho
Chegamos em Arraial d’Ajuda numa sexta- feira, pouco depois da hora do almoço e logo fomos dar uma voltinha para conhecer o centrinho da cidade e almoçar. Na volta para a pousada, reparamos num lugar mais simples, rústico digamos assim, e lotado de gente. Povo animado depois de um dia de praia, curtindo uma promoção de caipirinha (cachaça, 2 por R$20; vodka, 2 por R$30). Nos interessou… promoção de caipirinha e alegria genuína. Mas por conta de uma série de contratempos, só conseguimos aproveitar o lugar na segunda-feira. Resultado, quase não saímos mais de lá depois disso (o valor da caipirinha mudou conforme o feriado de 7 de setembro ia ficando mais perto, mas mesmo assim, a dupla seguia valendo a pena).
Comandado por um casal que veio de Goiás, o Traço não foge muito à risca do que tomou conta da cidade de Arraial e nos deixou bem chocados: quase todos os restaurantes NÃO são de comida baiana. Tem bistrô contemporâneo metido a besta (mignon com molho de gorgonzola - quem aguenta, gente?), tem pizzaria a beça, português, orientais, sanduicherias e muitos italianos. Eram pouquíssimos que serviam lagosta, espécie abundante na região, apenas um que era exclusivo de frutos do mar e peixes (caríssimo) e alguns com o combo: moquecas de camarão/peixe e bobó de camarão. Nas barracas da praia a mesma coisa, muita carne de sol e petiscos fritos, mas não vimos um lugar com lambreta ou acarajé. Só uma baiana a caráter na praia com sua bandeja de acarajé e uma lojinha escondida na Mucugê dessa delícia baiana e tapioca.
E vou dizer, essa constatação sobre a pulverização da alimentação e a falta de comida raiz ali em Arraial foi uma decepção absurda e motivo de muitas conversas e uma certa tristeza…
Puxa, mas se o Traço não fugiu à regra, por que gostamos? Na verdade, a localização foi um ponto bem positivo, fora da muvuca do centro da cidade e a honestidade do cardápio, no sabor, na oferta entre petiscos e refeições e especialmente no preço.
Vivian e Maurício já frequentavam Arraial há muitos anos (pra lá de 20!), mas foi em 2019, um pouco antes do mundo fechar, que eles chegaram lá com duas malas grandes e os dois filhos pequenos (um casal de gêmeos). Vivian é da área de hotelaria e Mauricio, advogado (os ternos vieram e nunca saíram da mala, aliás) e já tinham a experiência de ter um restaurante em Goiânia. Desistiram de uma pousada (mercado saturado) e fizeram essa birosquinha caseira para atender turistas e trabalhadores locais - o preço e os PFs ajudam nesse quesito.
A moqueca do Traço, como descrita no cardápio, é por encomenda. Avisamos num dia, depois de umas caipirinhas, e almoçamos no outro, uma moqueca perfeita de peixe, camarão e banana da terra. Não é baratinha (R$90 por pessoa), mas serve super bem! Daquele jeito: na hora que acabou, só uma rede para descansar a alma.
Em alguns dias, só passamos lá para tomar a dose dupla de caipirinha e papear. E foi uma delícia conhecer a coragem e o desprendimento desse casal, que trabalha de domingo a domingo, mas não perde o bom humor.
Aliás, vamos combinar, quem fica de mau humor numa cidade como Arraial precisa nascer de novo, né?
Vamos a mais uma seção?
Mercearia da Vidal: eu já quis que meu estabelecimento comercial homenageasse meu pai e nossa família. Não rolou - embora exista o Seu Vidal, uma casa de sanduíches carioca que tem uma imagem que é a cara do meu pai e do meu avô paterno, e não é da nossa família. Então, me resta ficar por aqui mesmo com a Mercearia da Vidal, com dicas de produtos que uso e gosto, não necessariamente do ramo da gastronomia/culinária.
Na primeira carta, quando apresentei a receita da torta francesa, comentei sobre essas bolinhas de cerâmica feitas especialmente para aguentar altas temperaturas. Você não precisa mais ter aquele pote de feijão ou qualquer outro grão para usar no forno. Elas são perfeitas e infinitamente reutilizáveis. Rogerio trouxe as minhas quando viajava muito para os Estados Unidos, na época em que eu ainda fazia curso de chef de cozinha. Hoje, é só dar uma procurada que você acha fácil pra comprar por aqui. De qualquer maneira, vou deixar um link aqui. Esta opção é de uma ceramista, não quis colocar de outros sites por não saber efetivamente a procedência.
Post it #2
Receita da Minha Quiche - que não é minha, né? rs
Aproveitando que falei sobre esses pesinhos de cerâmica, vou ilustrar o uso deles com a receita da quiche que faço. Quiche, ao contrário do que a maioria pensa, vem do alemão Küchen (torta) e sua origem é da região de Alsácia Lorena, quando esta ainda fazia parte do território alemão lá pelo século XVI. A Região foi incorporada à França e a quiche ganhou fama e o mundo!
Não tenho referência no Brasil como um todo, mas lembro demais quando na década de 1990/2000 a quiche era um fenômeno no Rio de Janeiro. O prato principal dos restaurantes da Zona Sul da cidade era: quiche com salada! Graças, especialmente, ao Gula Gula, aberto em 1984, cujo auge foi nos anos 90, com uma comida mais sofisticada com roupagem simples (não dá pra entender esse conceito, eu sei…). Lembro que comer no Gula Gula era um luxo, quase que programa de fim de semana e suas quiches (ou tortas, como eles se referem) eram acompanhamento perfeito para as diferentes saladas do cardápio. Até hoje, comer uma fatia de quiche com meia salada de peito de peru ou de batata palha é a minha pedida favorita. Infelizmente nem atendimento e nem qualidade seguem os mesmos daqueles anos de ouro, mas tem na Tijuca, o que facilita a nossa vida quando vamos lá.
Comprei o livro do Gula Gula antes de vir morar em Curitiba, em abril de 2003. Lembro até do preço… R$ 60 (era uma fortuna na época) e foi um dos meus primeiros livros de receita que adquiri. Queria trazer pra cá e não “esquecer” desse pedaço carioca. Memória afetiva que chama, né?
A massa - que no livro é massa de torta -, faço igualzinha, mas o recheio uso imaginação e a proporção que aprendi na escola de gastronomia.
Minha Quiche
Massa
140g de manteiga
1 ovo
220g de farinha de trigo
2g de fermento em pó (não uso, não é tão igualzinho!)
Preparo
Em uma tigela, misture a manteiga com o ovo (eu amasso com as mãos mesmo). Junte a farinha e o fermento e amasse por igual - não uso o fermento, acho que não precisa e sempre coloco um pouco mais de farinha -, até a massa ficar homogênea. Cubra com filme plástico e reserve na geladeira por 30 minutos.
Pré-aqueça o forno a 180°C. Em uma forma de fundo removível, coloque um papel manteiga para facilitar quando desenformar e forre o fundo e as laterais com a massa, por igual (ideal é abrir com um rolo). Cubra com papel alumínio e coloque os pesinhos de cerâmica - se ainda não tiver, use feijão (e guarde depois para usar dessa forma e nunca cozinhe, obviamente). Volte com a forma para a geladeira por uns 10 minutos. Retire e leve para o forno até assar.
Recheio
O recheio da quiche pode ser de qualquer coisa, desde que tenha o creme batido feito de ovos e creme de leite fresco por cima. Pode ser a tradicional quiche lorraine, com bacon e queijo, pode ser só de queijo ou até mesmo como as que fazíamos na Mandarina: gorgonzola com damasco; bacalhau; alho poró; cogumelos e por aí vai. Escolha a que te apetecer mais ou use a imaginação.
Ingredientes do recheio básico
300g de creme de leite fresco
3 ovos
(essa é a proporção certa: um ovo para cada 100g de creme de leite fresco)
Mussarela
Sal e pimenta a gosto
Noz moscada ralada na hora, a gosto
Quando a massa sair do forno, deixe esfriar um pouco antes de começar a fazer o creme. Eu sempre coloco sob a massa, um pouco da mussarela ralada, noz moscada e a pimenta do reino moída na hora.
Bata os ovos com uma pitada de sal até dobrar de tamanho. Acrescente o creme de leite, a noz moscada e acerte o sal. Bata mas não muito para não perder o aerado do ovo batido. Transfira o creme para a forma com o recheio já ali e finalize com mais mussarela por cima. Leve ao forno até assar bem (uns 35 minutos).
Sirva quente.
Ah! E prepare uma saladinha para acompanhar, por favor.
Qual é a Música, Pablo?
Head over feet é uma música de amor. Contemporânea, divertida, não melosa, não lenta (sou da época em que música lenta era romântica para dançar coladinho). Ela é, na minha humilde opinião, uma das melhores deste álbum, que é perfeito como um todo! Alanis virou uma potência tão grande ao longo desses anos, que depois de um show pequeno, na casa de espetáculos carioca, Metropolitan, em 1999 (eu fui!)-, ela volta ao Brasil, para um show único, em novembro, em SP, num estádio de futebol, com ingressos esgotados! E eu vou!!!!
Escutar essa música hoje é lembrar da busca que estava por um amigo como o descrito na canção, no auge da minha juventude e solteirice. E lembro bem de escrever para a minha amiga Marcinha, quando trocávamos longos e-mails diários e ter comentado: “acho que encontrei”.❤️
A semana promete calor intenso. Se hidrate bem!
Mercúrio acabou a retrogradação, a culpa é sua mesmo. Assuma os riscos e seus BOs (o recadinho também é pra mim).
E se quiser me contar sobre o que está achando dessas cartinhas, vou adorar saber.
Beijocas e até loguinho
Rê
Estou adorando ter essas cartinhas para ler. Lembre-se, às vezes, as pessoas deixam ali salvo para ler depois, com calma, como foi meu caso :)
Tô adorando Re. Leitura leve, gostosa e aqui consigo saber mais sobre você. Siga que tá uma delícia. Bjoo