Oi, tudo bem? Como estão as coisas por aí?
Ia fazer um conteúdo extra, mas fiquei com medo de não ter fôlego para criar uma news só de receitas e causos e outra só de causos. Talvez seja resultado das aulas na Escola de Escrita, com a maravilhosa Julie Fank. Ela explodiu minha cabeça em relação ao que é a escrita e o que, efetivamente, quero dela. Seguir com essa linguagem narcisista de “literatura como espaço terapêutico de elaboração” ou criar algo que reverbere para além de uma newsletters sobre minhas músicas preferidas e bobagens cotidianas? Qualquer que seja o caminho, está tudo certo, são escolhas, mas mexeu comigo e com a forma que vinha encarando essas cartinhas. Bora crescer um pouco, não é mesmo?
Aproveitando o gancho - na verdade, o gancho já passou, mas senta aí e vamos conversar sobre isso - da infeliz fala do CEO de uma plataforma de delivery. Acho que a repercussão que ela trouxe é fundamental para elevarmos o discurso sobre como nos alimentamos, o que consumimos e cozinhamos em casa. Se você ainda não viu, veja o depoimento da musa Rita Lobo:
ou o vídeo lindo e sincero do Instituto Comida e Cultura sobre o assunto.
Cozinhar humaniza, é insubstituível e sublime - como eles bem disseram.
Antes do carnaval, fiz o curso Comida de Pensar, do Guilherme Lobão, jornalista e professor da UNB. Pensar a comida, sobre o que ela representa, sua evolução, as tecnologias envolvidas, o prazer, o marketing, o alimento, a produção, o ato de comer, é de uma riqueza gigantesca.
Talvez afetada pelos temas abordados no curso, por pensar de forma mais efetiva em todos os assuntos que envolvem o ato de cozinhar, como afetos, meios de subsistência, tempo (não entrando no mérito da qualidade do mesmo, tá?) e especialmente, quem faz, me deu um embrulho no estômago ouvir alguém reduzir a produção de alimentação a uma projeção estapafúrdia como essa. É uma forma simplória de discutir o assunto com um quê de colonialismo selvagem (vai, uma frase de efeito só pra escrever bonito).
Eu sei que as plataformas de delivery de comida vieram para ficar, é uma comodidade que hoje entrega de fraldas a refrigerante, mesmo com uma operação muitas vezes cruel com seus colaboradores e entregadores. E há ainda o agravante de terem sido responsáveis pelo boom das chamadas Dark Kitchens - cozinhas de produção, muitas vezes sem CNPJ ou autorização para estarem funcionando/vendendo comida, onde a maioria produz fast food de baixa qualidade -, mas o fato é que elas (as plataformas) são muito mais um produto de uma indústria que não se preocupa com o fazer especificamente, mas sim no que o produto pode trazer de benefícios para ela mesma. Capitalismo, né?!
Com todo acesso à informação, tecnologia e insumos que temos hoje - mesmo sabendo que estou reduzindo a uma camada da população muito privilegiada, acredito no poder da produção mais efetiva do que comemos, bem na máxima: descasque mais, desembale menos. E estou louca para ver a cara do sujeito daqui uns 10 anos quando estaremos cozinhando ainda mais do que hoje.
Pensando nisso tudo, deixo aqui duas dicas de livros sobre o assunto. Um para quem quer aprender a cozinhar mesmo, com técnicas e dicas para além de receitas e outro com o pensamento crítico sobre o ato de cozinhar.
Chef Profissional, do Instituto Americano de Culinária (IAC)
Tradução de Renata Lucia Bottini e Márcia Leme, 9ª edição, Editora Senac, 2017.
O livro assusta pelo tamanho e preço, é verdade, mas não acho que ele seja voltado só para chefs de cozinha e muito menos vai te transformar em um. Ele tem tanta informação, dicas e ideias sobre alimentos, processos e técnicas, que vale cada centavo gasto e dor no braço de carregá-lo. Ele é pesado! Sim, quase inacessível para mais de 50% da população brasileira, mas é um livro para a família toda aproveitar e durar mais de uma geração (no mínimo).
E rende conversa: você já comeu Jacatupé?! Pois é…
Cozinhar: uma história natural da transformação, de Michael Pollan. Tradução de Cláudio Figueiredo, Intrínseca, 2014. (na editora está indisponível, então vai o link da Amazon mesmo)
No final da introdução ele já entrega tudo: “existe atividade menos egoísta, trabalho menos alienado, tempo menos desperdiçado do que aquele gasto preparando algo delicioso e nutritivo para quem você ama?”.
O livro virou uma série que foi um estrondoso sucesso, na Netflix. Vale assistir.
RECEITA
Granola
Faz tempo que quero produzir a MINHA granola. Minha no sentido de não comprar uma pronta… por dois motivos: preço - já reparou como um saquinho de granola é caro pra caramba? - e por poder escolher o sabor. Granola, na maioria das vezes, tem uma base (fiz a minha de acordo com a da Rita Lobo): aveia em flocos, nozes/castanhas, frutas secas, especiarias, item para adoçar e um óleo para dar uma liga. Com essa base, você tem a liberdade de colocar o que quiser e mais gosta. Essa que fiz ficou levemente apimentada, talvez tenha exagerado no gengibre e no cravo em pó. Eu gosto, mas não tive sucesso com os adeptos da casa.
Ingredientes
3 xícaras (chá) de aveia em flocos grandes
½ xícara (chá) de nozes picadas grosseiramente
½ xícara (chá) de castanha de caju picada grosseiramente
½ de xícara (chá) de sementes de girassol
1 xícara (chá) de uva-passa branca
¼ xícara (chá) de mel
¼ xícara (chá) de melado
¼ de xícara (chá) de óleo de coco
1½ colher (chá) de canela em pó
1 colher (chá) de gengibre em pó
½ colher (chá) de cravo em pó
3 bagas de cardamomo - usei umas 6… pode ser um tanto quanto exagerado, mas eu amo o aroma e o sabor do cardamomo. Ah, eu prefiro usar sempre bagas em vez de comprar já em pó. O sabor do processado na hora é outro. Lembrando que tem que retirar as sementes e bater num pilão.
1 pitada de sal
Preparo
Pré-aqueça o forno a 200º C (temperatura média) - não usei o forno elétrico, não quis.
Numa tigela grande, misture a aveia, castanhas, sementes, especiarias e o sal.
Junte o óleo e o mel e mexa bem para misturar os ingredientes.
Eu coloquei a uva-passa nesta hora, ela fica com aquele jeito de “bala puxa”, que eu gosto. Mas a indicação é colocar assim que retirar do forno. Ai, é opção de cada um mesmo.
Coloque a granola em uma assadeira grande - antiaderente ou com aquele tapetinho de silicone - espalhe bem até formar uma camada uniforme.
Leve ao forno para assar por cerca de 20 minutos - fique de olho porque ela passa do ponto rapidamente. Na metade do tempo, mexa para assar por igual.
Deixe esfriar em temperatura ambiente antes de armazenar.
Em um pote com fechamento hermético ela pode durar até 3 meses.
Qual é a música, Pablo?
Não, ainda não vai ser a música do Roberto Carlos e nem a daquele cantor que falei em umas cartinhas anteriores! Mas por esses dias, escutamos um LP que tem uma das capas mais lindas da vida - inclusive já pensei em tatuar… -, e que marcou demais o tempo em que morei em Buenos Aires.
Fui morar na capital portenha com 15 anos, em 1989 (pra quê essa informação!?). Toda trabalhada no rock nacional, pagodes das antigas e clássicos da MPB mas já apaixonada por U2, The Smiths e Madonna, além daquelas bandas chicletes de uma música só dos anos 80, tipo Oingo Boingo. Não sei porque cargas d´água, Depeche Mode não fazia parte do repertório, mas assim que conheci a Judith, uma húngara arretada que sentava na mesma carteira que eu na escola, passamos a dividir o fone de ouvido (do walkman) no ônibus para as aulas de educação física e ela me mostrou, quer dizer, me fez ouvir, lindezas da banda inglesa.
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Strange Love fez um estrago no coração e no modo de dançar e quando surgiu o álbum com Enjoy the Silence, a banda virou minha favorita e essa música está cravada na lista das minhas preferidas de todo sempre!
Não acho que as palavras sejam desnecessárias, inúteis ou esquecíveis, mas aprender a aproveitar o silêncio é uma arte. E indo além na minha divagação sem nexo, pegando uma frase já pronta e de efeito: escutar o silêncio pode ser um bonito dom.
Talvez tenha show deles esse ano e eu, já estou com a minha roupa de ir.
Que bom que você chegou até aqui.
Aproveite o silêncio.
Beijocas e até loguinho
Rê
Esse comentário infeliz tb rendeu pano para manga nas minhas aulas... aff... que coisa mais doida e doída ouvir alguém falando assim do ato de cozinhas e de se alimentar. Meio que tornando esses atos como parte de tornar o ser humano realmente uma máquina.
Eu sigo uma pessoa no insta que está sempre fornecendo uma nova receita de granola. Adoro, mas nunca fiz rs...