#15 Do México ao Peru, com muita abobrinha
Oi, tudo bem? Como foi a Páscoa?
Nas leituras do feriadão, li algo como “nem sempre a gente tem o que dizer”. Confesso, não sei se foi em uma newsletter ou livro. Mas fiquei pensando sobre isso e até consigo entender que seja por aí, embora também acredite que, muitas vezes, é melhor ficar calada, mesmo tendo muitas coisas para dizer. E entenda, são duas coisas bem diferentes. Mas, e quando a gente só gosta de falar mesmo, seja contar uma bobagem, seja apenas dizer que dia lindo ou oferecer um cafezinho e iniciar uma prosa gostosa? Ou ainda, dizer muitas coisas só com um olhar…. Sei lá, viajei nessa reflexão outro dia conversando com uma amiga. O fato é que tenho todas essas pessoas morando aqui comigo, na minha cabeça, e vou te dizer, elas falam o tempo todo. Coitada de mim e de vocês, isso sim!
Falando no feriado, estivemos em Morretes neste último. Fazia tempo que não saíamos em um feriado especificamente para relaxar. Estava sentindo falta, não nego. Importante dizer que não sou a melhor companhia para ir para o meio do mato - cobras, né?!, mas a casinha de Airbnb que alugamos, com amigos queridos, era uma delícia, na medida certa para aproveitar a natureza, o sol, o calorzinho e a calma da vida.
Cozinhamos, bebemos - ops, muito!, nos banhamos no rio, aproveitamos a piscininha, caminhamos pelo “condomínio” até uma placa ameaçadora, ouvimos pássaros que devem ter uma oferta muito grande de comida, pois nenhum veio comer os pedaços de mamão que deixamos nos locais apropriados….
Já é outono, ainda está quente, mas a sensação foi de fechar o verão.
E foi gostoso demais.
Amuse-Bouche do dia
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A família La Chingona
“Se La Chingona está aberta, é tudo por causa dela”, diz Carlos Alata.
Muito consciente do que queria para sua vida, Elizabeth desenhou um sonho. Literalmente. Até que, andando pelo bairro, viu uma portinha do tamanho do seu desenho. Ligou para o Carlos e disse: “encontrei”. Olhando o local e a imagem rabiscada numa folha de papel fica difícil de acreditar que aquele desenho não foi feito depois de encontrar o local. Mas é aquele olhar de orgulho e determinação que nos faz entender que sim, ela sabia o que queria, o tamanho do sonho e expressou isso no papel antes de qualquer coisa. A fé e a disposição de fazer acontecer foram imprescindíveis para o sonho virar realidade. E La Chingona, realmente só existe por causa dela.
Antes de falar da Beth, sua Chingona e as maravilhas servidas por ela, volto um pouco no tempo e conto as coincidências que me levaram a querer conhecer e contar a história dessa família. Ainda com a Mandarina de pé, volta e meia recebia a visita deles. A impressão que tinha é que eles iam naqueles entre-turnos de trabalho do Carlos, onde a família podia se reunir e comer uma cheesecake junta. Às vezes, Beth ia só com a Romina, sua filha, ou levava as amigas para conhecer o meu cantinho. Essas visitas também faziam parte de uma investigação e trabalho de campo. “Acho que só eu e você fazemos uma cheesecake sem gelatina na cidade”, diz Beth. Pois é, cheesecake é sem gelatina, gente!
O tempo passou, a Mandarina fechou e no meu grupo de mulheres que bebem vinho e frequentam a Gabo Livros e Vinhos, alguém indicou a La Chingona, avisando que encontraram o melhor ceviche da cidade. Pouco tempo depois, um amigo querido, degustador dos bares e baixa gastronomia avisou: vocês nunca comeram um ceviche igual a esse.
Curiosos que somos, fomos lá. Servido num prato fundo com colher - como deve ser servido um ceviche -, com muito caldo (leche de tigre), batata doce cozida (não, não era um chip), apimentado na medida (e eles perguntam qual a sua tolerância em relação a pimenta), milho e cebola roxa. Acompanhado de uma Cusqueña, cerveja do Peru, podemos dizer: comemos um ceviche de primeira!
Me empolguei com eles, com o lugar e a comida e resolvi fazer uma enquete no Instagram perguntando quem gostaria conhecer mais sobre eles. Oito amigos queridos responderam dizendo que queriam ler mais sobre o casal que comanda o La Chingona, esse restaurante pequenininho de tamanho e gigante no sabor e nas histórias.
A vida de Carlos e Elizabeth se cruzou graças ao Osaka, restaurante de gastronomia Nikkei - que combina a técnica e a comida japonesa com a explosiva e sempre criativa cozinha peruana - onde Carlos já trabalhava ainda lá Peru. Em uma viagem para a implantação de uma nova filial do restaurante no México, os dois se conheceram. Não se largaram mais e, em menos de 15 dias já estavam embarcados para a viagem da vida deles. Passaram por Buenos Aires, Santiago e São Paulo, até Carlos receber uma proposta de criar uma cozinha Nikkei em Curitiba e se instalaram aqui há mais ou menos 4 anos.
E não pretendem ir embora tão cedo. “Já recusamos voltar para São Paulo e até abrir um restaurante em Dubai”, conta Carlos, que se orgulha da sua trajetória, mas se empolga ainda mais quando conta sobre a força e dedicação que sua companheira tem. Chef que queria ser engenheiro ou arquiteto, já dormia atrás de um balcão desde pequeno e iniciou sua carreira aos 17 anos, graças ao irmão, também cozinheiro. “Eu sou um pouco artista, meu olhar também é de um engenheiro ou arquiteto, seja pelo desenho dos pratos antes de produzi-los, seja na otimização do espaço”, diz Carlos. E eles fizeram um milagre na otimização do espaço da La Chingona.
Pães e sobremesas são a especialidade da Beth, que se formou como chef e trabalhou em padarias e grandes confeitarias em Buenos Aires, São Paulo e Curitiba. Acostumada a acompanhar o pai, desde muito pequena, em visitas às minúsculas taquerias da Cidade do México, ela sabe muito bem preparar um molho na medida certa para o taco, cuja tortilla, ela mesma faz. “Assim como eu aprendi muita coisa com meus pais - seja aproveitando a comida de rua do México ou vendo minha mãe cozinhar diariamente -, Romina também já entende bem de cozinha. Ensina aos clientes como se deve comer um taco (sempre com a mão, nunca com talheres), avisa ao Carlos que o prato não está no padrão e tem um paladar aguçado para quem tem apenas 9 anos”, conta a mãe orgulhosa.
Beth sonha mas tem os pés bem grudados ao chão. “Não quero crescer. Nem estar à frente da La Chingona a vida toda. Nossa ideia é estarmos aqui por um ano e depois decidir o que vamos fazer. É uma experiência interessante, onde fazemos uma cozinha livre, informal, limpa e o mais natural e verde possível”, conta Beth, que divide a responsabilidade da criação, administração, atendimento e mil outras atividades que envolve um empreendimento próprio, com a maternidade. Sabemos, não é fácil. Carlos está com ela pelas manhãs e no serviço de almoço, mas à tarde já corre para o Nuu Niikkei, onde é Chef Executivo.
Conversamos muito no dia em que voltei para almoçar sozinha e saber mais sobre a história deles. Entramos nas questões dos influencers digitais, premiações e na falta de um bom crítico de gastronomia. “Conhecemos todos os esquemas, já ouvimos muitas propostas inusitadas. Na verdade, queremos sim ganhar um prêmio mas não queremos e nem devemos pagar por ele”, alfineta - com toda a razão -, Beth. No fundo, mais do que ganhar um prêmio, ela deseja que eles sejam reconhecidos pelo trabalho, criação e dedicação a essa gastronomia autoral e autêntica de seus países. Um casal jovem, que vive de cozinha desde muito cedo e que sabe o que estão fazendo.
Ah! Importante: o ceviche só é servido na sexta-feira e no sábado. La Chingona tem poucos lugares, então, tenha paciência.
Elizabeth La Chingona
Terça a Domingo, 10h30 às 16h
Al. Júlia da Costa, 93 - São Francisco
Carpaccio de abobrinha
Outro dia, recebemos amigos para um jantarzinho aqui em casa, ainda era verão e bem num sábado daquelas semanas de calor intenso que nem a noite refrescou. Pensei, pensei e resolvi montar três saladas diferentes, além da tradicional salada verde com molho de iogurte, acompanhadas de uma quiche e uma massa folhada com aspargos - que quase ninguém comeu e estava uma delícia.
As saladas eram relativamente fáceis de fazer - o problema é fazer tudo ao mesmo tempo e agora. Fiz uma de cenoura que já falei dela aqui, uma de couve-flor assada com romã e um carpaccio de abobrinha. Pois é, eu sou fã das releituras dos carpaccios, ceviches e tartares da vida - já deu para notar. E essa de abobrinha é uma das coisas mais simples e saborosas do mundo. Aliás, eu amo a versatilidade da abobrinha. Essa receita acho que já anda por aí no inconsciente coletivo, mas na verdade, eu peguei do livro do James Oliver (o mesmo da salada de cenoura) e me surpreendi por meus amigos nunca terem feito.
Confesso, a mesa ficou linda com essas saladonas e eu fiquei bem orgulhosa da composição.
Ingredientes
Duas abobrinhas grandes - para 6 pessoas e sobrou, passadas no mandolin - ou seja, cortadas bem fininhas longitudinalmente. Em Morretes, eu fiz uma versão com elas com o corte “julienne”, e funcionou também.
Uma pimenta dedo de moça bem picadinha
Folhas de hortelã
Azeite, sal, pimenta do reino
Raspa e suco de limão siciliano
Modo de Preparo
Mais simples impossível: misture tudo em uma tigela. Quando mais tempo você deixar, mais a abobrinha vai soltar água, mas também, mais os sabores do limão, hortelã e da pimenta vão se misturar. Eu deixei ela pronta umas 2h antes de servir e ficou perfeita. Inclusive sobrou e comi ao longo da semana. Em Morretes, errei a mão na pimenta. Sobrou e ninguém conseguiu comer depois. Ou seja, cuidado.
Aproveite que a onda de calor ainda não passou e faça essa maravilha!
Apoie as amigas empreendedoras - devia ser nome de uma coluna, daquelas que eu nunca mantenho! Ops… A verdade é que março passou e não é só nesse mês que devemos apoiar e incentivar as mulheres que empreendem, não é mesmo!?
Aproveitando os ganchos de pauta e localização, na rua Júlia da Costa, bem em frente ao La Chingona, tem a Casa 102 - também liderada por uma mulher -, que está passando por uma mudança estrutural mas mantém a essência de ser um espaço no estilo colab, que abriga uma rede de projetos de economia criativa, colaborativa e circular. Lá, você vai encontrar a loja da minha amiga Mari Serpeloni, que junto com a Licínia Stevanato, estão com um cantinho lindo de suas marcas artesanais e autorais: Dona Florinda e a Entalpia.
Eu sou fã de carteirinha e cliente de primeira da Dona Florinda, que desenvolve produtos veganos e sustentáveis, visando nosso bem-estar e autocuidado. O shampoo em barra, o condicionador que também pode ser usado como hidratante corporal, o sérum - eu uso ele no meu colo e notei uma diferença enorme, além do recém lançado desodorante em barra. Essa é a minha lista de itens necessários para o meu autocuidado diário.
Da Entalpia, eu tenho o aroma de ambiente de capim-limão e lavanda que é maravilhoso. As velas - produzidas com cera natural e óleos essenciais - são perfeitas também. Uso em quase todos os ambientes da casa. Aliás, o melhor ponto aqui é que as duas marcas você aproveita para o seu uso pessoal e são lindos presentes.
Vamos comprar das mulheres empreendedoras, apoiar o comércio local, os negócios sustentáveis e criativos?
Hum… elas podiam fazer um cupom de desconto com o meu nome, né!? Brincadeira, queridas (elas são minhas leitoras e me sinto muito chique em falar isso)!
Parabéns pelo trabalho de vocês!!!
Qual é a música, Pablo?
Outro dia, ouvindo o LP da banda Tears for Fears - não, não os chame de “tias fofinhas”, por favor -, Ro disse que não tínhamos ainda nada deles. Tolinho… o CD em questão fez parte da trilha sonora do meu Paliozinho por muito tempo e está na gaveta dos mil CDs que ainda guardamos. Mais um daqueles que não sei como não virou papel, de tanto que escutei.
E essa música faz parte da lista em que mal começava a tocar, eu já iniciava o choro… Toda vez. Ainda me emociona, mas as lágrimas já não correm mais. Vai ver que já cheguei na minha vida na parte da música: “soon we will be older”... mas também penso que seguimos com o mundo inteirinho nas nossas mãos e o melhor conselho é cultivar o amor, especialmente o amor próprio.
Que bom que você chegou até aqui!
Que seja um lindo outono para todos nós.
Beijocas e até loguinho,
Rê
Abobrinha é um dos meus vegetais favoritos! Digo que sou feita metade abobrinha e metade cenoura. Tenho pensado ultimamente como nossas vidas teriam sido mais interessantes se o papai comesse mais vegetais... rs... como nossa mesa seria mais rica com abobrinha de montão, beterraba sempre, berinjela de todas as maneiras e não só na caponata da Mamãe. Me lembro que aprendi a gostar de couve-flor qdo fui almoçar na casa da Tia Susi lá na Usina. Infelizmente, tb não entrava em casa... apesar de Mamãe adorar tantas coisas ela não colocava dentro de casa... por que será? Tenho pensado nisso...
Fiquei com água na boca pelo ceviche.
Ainda não experimentei o shampoo, acredita? Tenho outros na fila... Mas vou experimentar asap. Acho NECESSÁRIO incentivarmos as mulheres empreendedoras, a diferença na sociedade que elas fazem é imensa.
Adorei a "Palavras Temperadas" de hoje.